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Mostrando postagens de julho, 2010

Querida Aurélia,

Tem tempos que não te escrevo, eu sei. Tempo, que palavra é essa amiga? Me sinto inclinada a discordar de Drummond e achar que quem inventou a idéia de fatiar o tempo em horas, anos, minutos, meses foi um completo idiota. Me sinto prisioneira do tempo, como se eu dependesse dele pra tudo. Quero me organizar, quero mudar algumas coisas... E sempre me vejo pensando no tempo, o tempo que eu tenho pra fazer isso. Você me entende, amiga? Eu tenho a sensação que estou deixando alguma coisa escorre pelas minhas mãos, por mais fechadas que elas estejam... É como tentar segurar água, é impossível e frustrante. E sinto medo, porque penso em coisas que eu estou perdendo com o tempo correndo, acelerado. Faz sol, aqui. Sol e calor. Quem poderia imagina que não teríamos um inverno inverno de fato, depois de ver todas as vitrines de roupas novas e quentes? Venta um pouco, não nego. Mas já estamos no fim do inverno e eu nem usei minhas roupas novas... Não que sejam muitas, mas vou guardá-las para quan

paradoxo do espetáculo

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Daqui alguns anos o que você terá feito da sua vida?! Tolo, perguntar. Eu sei que você nem sabe o que tem feito dela. Pra quem monta o espetáculo durante tanto tempo é normal assumir o papel do personagem em algum momento. Você está lá, atuando. Sorrindo. Trepando. Fazendo almoços em família. Aguentando pessoas que não te agradam, porque isso é que é almoço em família. Tentando unir duas "inuníveis", estilo romeu e julieta. Sempre foi assim e você sempre viu, mas já era tarde. Namoro, gravidez, casamento, fim. Fim de tudo que era planejado e não foi. Fim de tudo que você queria ser ANTES de ser mãe, mulher. Antes de ter o sobrenome do seu marido colado no seu. Agora não é mais mulher sozinha, é direita, se comporte. Isso significa não trair, não beber demais e voltar tarde, não sumir sem dar satisfação. Você tem filha e marido pra cuidar. E, como se não bastasse todos os erros que, convenientemente você enterrou no meio do caminho embaixo de pedras sem ao menos fincá-las ao c

saudade.

"Já sentiu saudade?" - O velho pergunta inconformado. "É claro que já..." - Ela responde, olhando desconfiada pro senhor. "Ah, basteira, cê nunca deve ter sentido saudade como eu sinto". "Bom, tinha as vezes em que meus pais saiam e eu ficava com meus avós, com minha 'babá' e, quando eles demoravam pra voltar, eu começava a ficar incomodada..." "Ué, incômodo não é saudade... Incomodada com o que?" Ela parou um tempo, refletindo, e respondeu: "Bom, eu ficava incomodada com o fato de eles não chegarem logo, não atenderem seus telefones, não dizerem aonde estavam... E ficava incomodada porque eles não estavam comigo e ai meu coração ficava apertado e eu queria chorar mas não chorava, porque não queria que pensassem que eu era manteiga derretida...Logo, meu incômodo era saudade". Olhou pra ele apreensiva, vencera no argumento. O Velho refletiu, por sua vez, durante um tempo maior... Era muito velho, mesmo. Se apoiava em um