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Mostrando postagens de 2016

Sobre tanta falta

Não há absolutamente nada que eu escreva aqui ou que eu pense que fará mais sentido depois de escrito, que vá conseguir expressar o que eu estou sentindo nesse momento. Talvez a ilustração mais plausível seja a metáfora que diz que o coração foi dilacerado. Eu acho que se eu pudesse explicar esse sentimento a alguém diria, com certeza, que meu coração foi dilacerado. Esmagado pela mão de um gigante. Esse não é um texto sobre a morte. Não tenho nenhuma competência pra falar disso. Nem sobre a vida. Queria que fosse alguma coisa que ajudasse a lidar com a ausência que a morte proporciona. Pensei que queria poder dizer sobre o que vem depois do dilacerar - o vazio que fica. (Vazio agudo). Em casa, perdemos um amor felino. Um companheiro cheio de personalidade, o Pablo. Viajei terça, a última vez que eu o vi. Eu disse que voltaria sexta, mas por um relaxamento de agenda, resolvi voltar sábado. Descobri de manhã que ele havia sido atropelado. Sabe, pensei muito nisso. Em quanto não faz

Polêmica: onde vamos com o feminismo só das "mana"?

Esses dias eu pensei numa coisa, que vou tentar traduzir da forma política mais saudável possível, porque é dessas pulgas atrás da orelha que não quer ir embora, e achei melhor não ignorar. O que me motivou esse pensamento foi a absurda tragédia que envolveu uma jovem chamada Lucía, na Argentina. O movimento feminista de diversos países, composto por diversos grupos diferentes, conseguiu organizar uma mobilização grande para manifestar a angústia que sentimos todos os dias, e nesse momento em particular, com a morte de Lucía. Mas, em meio a isso, surgiram algumas polêmicas envolvendo homens no protesto, esquerdomachos, o nome da campanha, etc, etc, etc. Não que polêmicas não sejam saudáveis, elas são. Mas me fez pensar no feminismo que anda a ganhar espaço ultimamente: É um feminismo que em discurso preza por agregar as mulheres (cortadas por diferentes opressões e, portanto que envolva as diferentes interseccionalidades) - mas que não permite "homem feminista". Que "p

A dificuldade da responsabilidade afetiva X a falácia da raposa do Pequeno Príncipe

Um autor da pedagogia que li há um tempo atrás, no que tocava às questões pedagógicas, apontou que um dos principais problemas dos debates era o entortamento da vara para qualquer um dos extremos. Mais comumente as pessoas traduzem isso da seguinte forma: "fulano é muito 8 ou 80, isso é ruim". A última tradução me parece ser possível vislumbrar no título dessa reflexão. Como eu acredito que as crises estruturais que vivemos na sociedade afetam também nossas relações amorosas e afetivas, tenho pra mim que vivemo hoje uma intensa crise nas formas de relacionamento. Aquela dificuldade de se comunicar de forma honesta, de ser sincero com quem se relaciona sobre expectativas, buscas e sentimentos. Isso é incrivelmente difícil entre pessoas que estão travando conhecimento, o que é de se esperar. Não deveria ser difícil, no entanto, entre pessoas que já estão numa relação ou já se conhecem mais "profundamente". Mas, como nem todo pensamento "lógico" realmente é

sobre amor livre e subjetividades tantas

O amor é construção. As relações são construídas. Quando nos propomos a ter uma relação aberta (o tal amor livre)é, ao mesmo tempo, uma desconstrução. É a proposta de olhar para questões que, normatizadas, seriam problemas e se propôr a pensá-las conjuntamente. Não é perfeito, não é a resposta para os problemas da sociedade, não é livre realmente - isso não existe. Não é imune às opressões, inclusive também se é contaminado por elas. As relações são construídas objetivamente, mas dependem também dos sujeitos que as constroem, dispostos a isso, com seus vícios, sonhos, desejos, sentimentos.  Construí uma relação por três anos. Desconstruí nessa relação por dois. Tivemos os momentos maravilhosos, regados à paixão. Os problemas. Os ciúmes. Os medos e as crises, as brigas, as ausências, os planos, os sexos e carinhos, os beijos, abraços, risadas e lágrimas. Tudo isso dentro dos conformes das relações afetivas. Foram três anos em que cresci incrivelmente, mudei pra caralho e descobri u

Opa! Se me va una pieza!

De tempos em tempos me movo para escrever. Ou melhor, o amor(e a falta dele) me move. As pessoas, as relações e as não-relações. Os conflitos, as decepções e as frustrações. Algumas borboletas no estômago, os sorrisos e carinhos. As risadas. Todas as coisas que foram e também as que poderiam ser. Assim, eu escrevo. Porque as vezes sinto uma necessidade enorme, que cresce apressadamente em mim, essa necessidade de transmitir às palavras aquelas coisas que eu sinto.  Brinco comigo mesma: fazer a sociologia crítica do amor não é tarefa fácil. Ainda mais quando o coração, vida que é, insiste em doerapertarsangrar todo dia.  A comunicação, tarefa árdua. A responsabilidade afetiva em ter responsabilidade com pessoas que nunca pensamos que teríamos - já que muitas vezes não temos nem com aqueles que supostamente deveríamos ter. As tantas, várias, muitas assimetrias - sobre as quais nunca podemos falar, tabu intocável que é "discutir relações" quando, na verdade, deveríamos pode

Um Jean Wyllys sobre a Palestina calado é um poeta!

Em entrevista que concedeu à Fierj Federação Israelita sobre a ida à Israel, Jean Wyllys demonstrou não só uma incapacidade incrível em ser criticado pela sua posição política sobre a questão Israel/Palestina como também um enorme desrespeito para com os palestinos e palestinas que lutaram e lutam resistindo à existência criminosa de um Estado como Israel. Foi a cereja no bolo de baboseiras que ele vinha proferindo desde que foi pra lá. A posição dele além de dificultar o debate já difícil dessa temática, faz um enorme desserviço para que a esquerda o faça de forma qualitativa no país. Para ele parte dessa esquerda brasileira é dogmática PORQUE acha que "a Palestina é o mocinho e Israel é o vilão", resumindo que o nosso problema é não querer entender a complexidade do conflito uma vez que "não há maus e bons" nessa história toda. Eu queria explicar, em outras palavras: somos dogmáticos porque diante do conflito histórico que envolve Israel e Palestina nos posic