profundo

Fica aquela vozinha, no fundo, gritando pra gente desesperadamente pra que a gente possa ouvir "anda, levanta... anda, tudo vai ficar bem". Eu minto pra mim mesma, eu estou tentando. E eu mesma digo que isso é mentira, eu não sou boa o suficiente para tentar.

Estava deitada atrás da porta, olhando embaixo pela fresta, pensando num futuro que nem é meu. É tão longe, tão imperceptível. Vi algumas sombras, vivo tendo medo das sombras. Não consegui sentir o gosto do que é liberdade - essas amarras que eu mesma fiz, de passado, ficaram muito apertadas... o ser humano tem uma capacidade incrível de se afundar sozinho - e eu pude perceber isso, e pude entender como isso acontece: parece que, quanto mais fundo você vai e você se vira e olha para trás e as coisas vão ficando pequenas, tão pequenas, pequenas, pequenas e você não consegue enxergar. Não enxerga as paredes ao seu redor, não enxerga as escadas que aparecem, as cordas, as camas-elásticas e, o mais amargo de tudo, não enxerga as mãos que te estendem. E elas passam a não existir mais.
Não há mais mãos que procurem te segurar. Não há mais aquela paciência com você. Não há mais conversas. 
O imaginário se mistura tanto, você finge tanto e ao mesmo tempo você não pode falar, porque ninguém mais quer te ouvir, porque na verdade ninguém mais pode te ouvir.   

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