Relatos de Mochila 1: Bolívia
Bom, achei que seria legal narrar minha experiência "mochilando" porque antes de ir viajar procurei algumas coisas na internet mas as encontrei de forma muito desorganizada (e eu tenho tipo um TOC para organização, rs).
Pra começar é importante destacar algumas coisinhas básicas: 1. lembrar que essa foi minha primeira viagem de "mochilão" então obviamente preciso aprimorar muitas coisas; 2. Ninguém (por mais tempo e dinheiro que você tenha) consegue conhecer uma cidade/lugar em apenas uma visita. 3. É muito importante você PLANEJAR de fato sua viagem: eu planejei a minha durante o ano todo e mesmo assim planejei muito mal em alguns sentidos, percebendo isso só durante a viagem, por isso queria registrar (pra Julia do futuro, inclusive) o que eu considero por PLANEJAR:
- Ler sobre o país que se pretende visitar (isso inclui ler, ainda que superficialmente, sobre a história do país, a situação social e política e também, óbvio, os lugares turísticos - as belezas históricas e naturais, os picos de diversão, etc.). Além disso, é INDISPENSÁVEL saber sobre as condições naturais do país: clima, vegetação, relevo, etc.
- Saber como o país anda economicamente é muito importante: tente pesquisar um pouco antes de ir como estão os preços de hospedagem em hostels/hotéis, refeições, cerveja, ônibus/metrô, passeios. Tentar saber como anda a moeda do país e a situação econômica é fundamental.
- Pensar nos dias que se gasta por passeio/cidade/país é importante. Na minha viagem eu tentei planejar os dias certinhos, tintin por tintin e, no final, acabamos largando a Bolívia para a sorte grande: "temos 10 dias na Bolívia. fim". Ainda que todo mundo que eu conheci e conversei durante a viagem tenha me dito que mudou o planejamento inicial, é importante que se elabore pelo menos um esboço do que se quer fazer (não entupindo todos os dias de coisa, porque sabemos que isso é humanamente impossível). Esse esboço pode se alterar por inúmeros motivos, mas é importante se ter uma noção prévia do que é possivel fazer e do que se quer fazer. E lembrar que pelo menos algumas horas ou até um dia será necessário para descansar ou não fazer nada (ficar no hotel dormindo ou vendo tv) e também comer coisas mais habituais (nós fomos comer no burger king, por exemplo) ou comer em algum lugar mais caro mas com mais qualidade (enfim, nossos corpos tem alguns limites e respeitá-los/entendê-los é importante para não fodermos a viagem toda depois).
*Pegamos um câmbio onde R$1,00 = 2,35/2,40 bolivianos (para as possíveis conversões).
1. Os pré-viagem:
Minha viagem começou dia 02 de janeiro para Buenos Aires (mais clichê) e seguimos para a Bolívia no dia 07 de janeiro. Comprei um mochilão de 52 litros da Quechua que era o que eu podia pagar (a escolha do mochilão é sempre um grande dilema, porque a maioria é bem cara e a gente num entende muito disso - e eu confesso que comprei o meu meio no "chute" e no valor dele). Comprei também uma capa de chuva para a bolsa e uma toalha de banho que eu só vejo vender na Decathlon que é aquelas que secam super rápido - e eu recomendo MUITO que todo mundo tenha uma toalha dessa porque ela é super pequena e seca bem. Também recomendo muito que compre uma capa de chuva boa e de qualidade ou um casaco com capuz impermeável (eu tive que usar uma capa de chuva que compramos na rua dessas que vende em shows/jogos de futebol na rua por 5 bolivianos. Era boa, mas não muito confortável). Outra coisa que eu não comprei e me arrependo muito é aquelas mantas térmicas de acampamento. A Bolívia é um país meio frio em alguns picos e eu passei frio em alguns momentos. Essa manta fica super pequena e não ocupa muito espaço na mala.
Para a Bolívia (e acredito que praticamente todos os países, na moral, mas para viagens que sabemos que encontraremos lugares mais precários) é importante você levar lencinhos de papel (ou papel higiênico) e lencinhos umedecidos (juro!) e também aqueles protetores de acento sanitário que vendem em farmácia. Não esquecer também de remédios básicos: para enjoo, para vômito, para dor de cabeça/dor de estômago e esse tipo de coisa.
Um tênis bem confortável e um bom par de chinelos para mim foram indispensáveis. Também não abra mão de protetor solar e d'um óculos de sol.
2. Sobre mochilar, se hospedar, comer, se divertir...:
Cometemos um erro que algumas pessoas nos "avisaram" e que eu acho importante ressaltar: por mais que existam sites de reservas de hotéis e hostels (booking.com, por exemplo) foi a maior furada reservar nossos hotéis pela internet. Normalmente é cobrada uma taxa das pessoas que reservam por esses sites, no nosso caso fomos taxados em um hotel na Argentina e um na Bolivia em 13%!!!! Na Bolívia ainda rola um adicional: quase nenhum lugar aceita cartão de crédito e hoteis e agências de viagem que aceitam muitas vezes cobram uma taxa de 6 a 7% em cima do valor :(
Sigam o velho conselho de reservar um quarto quando chegar na cidade (principalmente se tratando de cidades bastante turísticas, como foi o caso de La Paz e também Buenos Aires). Ao chegar de viagem você pode procurar os hostels perguntando as opções de quarto que estão disponíveis e os valores e muitos lugares te permitem ver as acomodações. Você pode pegar um e, caso tenha problemas, no dia seguinte sair em busca de um novo lugar (coisa que não pudemos fazer com lugares pré-reservados). Em La Paz a opção de hostels e hotéis é gigantesca e os preços não são muitos altos. O primeiro hostel que ficamos, Hostel Copacabana, foi reservado pela internet e pago com cartão e nos saiu uns 215 bolivianos a diária (quarto duplo com banheiro privado). Eu gostei da equipe que nos atendeu e do café da manhã servido, mas as acomodações são meio fracas. A localização é boa para dar rolês mas péssima para dormir e o quarto é meio gelado. O banheiro estava com o box quebrado e ensopava quando tomávamos banho, era bem gelado e a água não esquentava muito. A iluminação do lugar é meio ruim, tem um aspecto "sombrio". O hostel que ficamos em Copacabana era terrível e custou 140 bolivianos a diária (quarto duplo, banheiro privado) Ele tinha um cheiro horroroso e o banheiro era meio precário. Voltando de Copacabana nos hospedamos em um hotel chamado Sagarnaga, muito bom! A diária foi 220 bolivianos (mais cara) por um quarto duplo com banheiro privado. O quarto era quentinho, a cama confortável, tinha televisão e o chuveiro esquentava e não molhava o banheiro. O café da manhã foi ótimo e nós pagamos com cartão sem sermos taxados! Por fim nos hospedamos num hostel famoso, o Loki, que nos surpreendeu. Apesar de realmente ser loki (tem um bar no ultimo andar onde a galera enche a cara e fica muuuuuuito louca, rs) o quarto era bem quentinho, o banheiro era muito bom e o chuveiro esquentava bastante. Foi o lugar mais limpo que nos hospedamos, pagamos 160 bolivianos por um quarto duplo com banheiro privado (o ruim é que não tem café da manhã incluso, o que é uma boa mão na roda das pessoas que querem economizar grana). Óbvio que se for envolver outros picos pela Bolivia (ou qulquer país que tem suas regiões mais pobres ou precárias) podemos estar falando de coisas diferentes das que estamos habituados e, portanto, níveis de conforto/desconforto que não conhecemos ou hábitos que não temos e que estranharemos no início. Por isso é fundamental estar preparado para lidar com situações inesperadas!
Na Bolivia que nós vivemos da para se comer muito bem (na verdade pelo que eu vi da movimentação dos comerciantes de rua os pratos deles num geral são muito bem servidos!) e se pagar relativamente pouco. Tem muitas opções de restaurantes que cobram um valor fixo (que varia de uns 10 a 20 bolivianos) por uma refeição que inclui: salada, sopa, prato principal e sobremesa. Nós achamos um restaurante que nos agradou muito e que comemos muito bem. Tem muitos lanches também (todos eles vem acompanhados de batatas fritas, pelo menos nos lugares onde fomos) e pizzas. A garrafa de água de 2 litros custava entre 6 e 8 bolivianos e a coca "popular" (500 ml) era uns 6 bolivianos num geral. As comidas tem um tempero bastante peculiar, mas num geral são muito gostosas. Come-se muita batata (frita ou cozida), pão, carne (de frango - frito, vaca, lhama, peixe, porco). Também rola bastante massa (macarrão) e rola arroz, quinoa, milho, tomate, cenoura, pepino - e sopas! Tem muitas frutas por lá também: morango, banana, maçã verde, pessego, manga... Enfim, é bastante variado. Tem os famosos salgados e quitutes de rua (incluindo umas empanadas que eu particularmente não curti porque tinha uma massa doce :~). Eu recomendo que sempre se de uma olhada no restaurante onde vai comer (tem a ver com um julgar pela aparência sim, mas infelizmente numa viagem tão longe de casa e com dias contados não da para arriscar passar mal) e se algo não te agradar, procure outro. Comer comida é sempre melhor do que ficar comendo só lanche e fast food. Aliás, lá não tem McDonalds. O que rola é um Burger King e um Subway que ficam juntos (e que financeiramente equivalem ao que pagamos no Brasil, talvez um pouco mais até). As comidas são bem servidas, por isso eu recomendo que não se cabeçude em pratos elaborados que tem nos restaurantes quando se vai em dois ou mais pessoas: peça um, avalie o tamanho e a fome primeiro. Eu deixei sobrar comida ou me entupi para não sobrar em algumas vezes e isso não é bom. Eu recomendo comer sempre devagar e esperar um pouco antes de sair dando altos roles - a altitude foi um grande problema pra mim.
Todos os passeios que você vai fazer serão através de agências. Alguns (que incluem viagens) é possível comprar as passagens de ônibus diretamente no terminal, mas tem uns que o transporte vai ter que ser pela agência. Por exemplo: fizemos o passeio para Chacaltaya e Valle de La Luna que incluía transporte e guia que era 80 bolivianos por pessoa (a entrada no monte e a entrada no valle eram pagas no dia do passeio e saia 30 bolivianos as duas 15+15). Compramos o transporte para a cidade de Copacabana pelo Hostel e pagamos 140 bolivianos ida e volta (talvez seja mais barato no terminal, pois o hostel vende para uma agência). Por último fizemos Uyuni e compramos tudo de uma agência que nos vendeu o transporte de um ônibus semi cama por 170,00 bolivianos (ida) 170,00 (volta) e o passeio de um dia saiu em torno de uns 250 bolivianos por pessoa. O total para duas pessoas (com taxas do cartão) foi de 1.234,00 bolivianos. Nós saímos de La Paz às 19:00 da quarta-feira e chegamos em Uyuni às 08:00 da quinta (parece que todos os onibus saem diariamente para Uyuni sempre nesse horário e há varias companhias que fazem o trajeto. São mais ou menos 12 horas de viagem com 1 ou duas paradas em ônibus cama ou semi-cama, com banheiro - impossível de usar, diga-se de passagem). Lá o passeio tem inicio às 10:30 e como fizemos o de um dia retornamos à cidade de Uyuni por volta das 17:30 (não pudemos fazer visita a Ilha do Pescador - que cobra 30 bolivianos por pessoa para entrar, por conta das chuvas que alagaram uma parte da região). Lá os onibus que tem como destino La Paz saem todos os dias às 20:00 e chegam umas 08:00 ou 09:00, também com parada.
**Compensa muito procurar por ônibus que saiam ou de madrugada/cedinho (quando a viagem for de até umas 5/6 horas - como foi o caso de Copacabana) ou que saem a noite e passam a noite viajando chegando no destino pela manhã, porque isso pode equivaler como uma diária de hospedagem (um pouco mais caro e incômodo, claro). Compensa porque otimiza o tempo também: é mais fácil dormir no ônibus a noite e viajando e chegar no destino final de manhã. Se você for ficar hospedado no lugar por um ou mais dias, você já chega e procura um hostel, descansa um pouco e ai da inicio ao planejamento do dia. Se for um passeio de um dia é possível esperar na agência que você contratou ou em algum restaurante tomando um café da manhã. De qualquer forma minha recomendação é que se compre a passagem diretamente no terminal de ônibus (de preferência não deixar pra última hora porque o uso dos ônibus como transporte na Bolivia é intenso e todos os que eu viajei foram cheios, mesmo que tenha muitas companhias) a passagem de uma amiga que fizemos na viagem saiu 20 bolivianos mais barato para um ônibus semi cama também (sei que parece pouco, mas em viagens qualquer tipo de economia é muito importante - tanto para os imprevistos quanto para sobrar uma graninha no final para os souvernirs - já que eu adoro presentinhos hahaha). Os passeios, num geral, devem ser comprados em agências (tirando esses city tour que eu realmente não recomendo já que eu acho muito mais legal e divertido conhecer as cidades carregando um mapa, pedindo informações e sabendo um pouquinho da história e dos lugares para onde se está indo). Esses picos tipo o Chacaltaya, Tiwuanaku (ruínas de uma civilização pré-incaica que não visitamos, infelizmente), Salar de Uyuni, enfim, eu já recomendo guias porque eles manjam do rolê e ainda contam várias coisas legais que a gente não faz ideia, assim como alguns passeios alternativos que eu vi que rolam por lá tipo uns rolês de bike, umas trilhas (que eu particularmente não curto, mas pra quem curte é sempre importante fazer com quem manja).
Acabamos não conhecendo a vida noturna da cidade por falta de tempo e dinheiro, além do cansaço que Uyuni nos proporcionou, mas há bares/pubs e baladas. Há aqueles só para turistas e aqueles só para os bolivianos que moram em La Paz - tem de tudo. Eu queria ir em algum lugar onde só vão bolivianos, mas mesmo as pessoas que moravam lá não me recomendaram muitos, argumento que esses lugares não são muito legais (eu queria escutar e dançar a música que eles curtem e que eles fazem, rs) e me recomendaram lugares "mistos" onde eu poderia ouvir música boliviana/andina/reggaeton/salsa, enfim, e me divertir. O ruim é que os lugares para turistas num geral são bem mais caros para nós, latinos, que temos pesos, reais, sóleis, enfim.... A galera das gringa tem mais sorte com isso. A garrafa de Paceña (cerveja produzida em La Paz) de 600 ml ou 1 litro girava em torno de 20 ou 35 bolivianos nos lugares onde fomos. Eu bebi super pouco lá, porque achei que além de tudo a cerveja me pesava muito (não sei se era a cerveja em si ou a altitude). É bom sempre pedir indicaçoes de lugares para ir (para bolivianos ou estrangeiros) e não ter medo nem vergonha de entrar nos lugares (nenhum nos cobrou entrada ou couvert artistico) ver o cardápio e se achar caro demais ir embora.
3. Dicas gerais:
Eu reparei que tomar chá de coca com aniz me ajudou muito com o estômago de fada que eu tenho (eu curto muito comer qualquer coisa praticamente, mas meu estômago é meio chato e meu intestino também, então passo mal, tenho dor de barriga e enjoos com frequência) assim como mascar a coca (peça para um boliviano ou alguém que manja, te ensinar) apesar de não ser muito gostoso e tomar um remédio chamado Soroch Pil (vende nas farmácias lá de boa) me ajudaram muito na questão da altitude. A cabeça dói bastante, não se iludam, e a gente fica MUITO cansado (ainda mais porque tem muitas escadas e muitas subidas na cidade). Também é indispensável tomar MUITA água - a gente acaba esquecendo por conta do frio, mas ajuda DEMAIS a dissipar essa leseira e mal estar da altitude e também nos deixa hidratados (porque acabamos suando sem perceber). Recomendo sempre comprar a água e só pedir gelo quando souber que é confiável.
Saber um pouco como é a lingua do país é bem importante e, mais do que isso, saber como falar algumas coisas que serão recorrentes na viagem também. Eu não tive vergonha em usar um guia de conversação nos primeiros dias, rs. É legal mostrar que você se esforça para falar o espanhol, ou pelo menos o portunhol (eu senti que como brasileira eu não era muito américa latina, enquanto que a galera que eu conheci que fala o espanhol era mais "próxima", "amiga". Por isso acho importante mostrar que respeitamos e conhecemos um pouco da língua). É bom também porque da para chorar uns precinhos (no comércio em geral eles dão uns pequenos descontos, na agência eu tentei explicar que era professora e etc. Como deixamos para última hora a compra do passeio tivemos um desconto pequeno, mas se estivessemos em mais pessoas ou tivessemos comprado com mais antecedência o desconto seria maior, por isso sempre rola de perguntar para conhecidos ou quando for com mais amigos fechar o passeio todos juntos!).
O que vi muita gente fazer e acho que super compensa (apesar de termos ficado poucos dias e não ter sido necessário) é usar o serviço de lavanderia. No último hostel que ficamos o valor era por kg: 1 kg = 10 bolivianos e a lavagem de um dia para o outro. Acumular roupas sujas e lavar durante a viagem ajuda a diminuir a bagagem inicial.
4. Por fim, minhas impressões:
A Bolivia é um país maravilhoso principalmente do ponto de vista natural (imagina antes da colonização e usurpação né?) e eu fiquei encantadíssima com as paisagens naturais de lá, de verdade, me apaixonei imensamente e sei que conheci muito pouco perto do que ainda tem. É foda, porque eu senti que era uma viagem de contradições o tempo todo. Quando saimos do aeroporto rumo a La Paz e o taxista parou num lugar para tirarmos uma foto a primeira recordação que tive foi de uma cidade favela: a organização vertical do lugar que em muitos picos sobe até o meio de grandes montanhas e as cores da casa, além de algumas ruas bem estreitas, me fizeram pensar nisso. Mas tem coisas que em nada lembram as favelas, até porque não é uma cidade no morro - é uma cidade como que num buraco, rodeada por montanhas altíssimas com picos de gelo e que avançam em alguns lugares pelos morros. A região central é bastante pobre e amontoada. Ai tem uma espécie de faixa mais "classe média" e depois volta a ser o amontoado de novo (há a região da zona sul, praticamente outra cidade, onde moram pessoas de classe média alta).
Quase não há semáforos, o trânsito é SUPER caótico e tem um congestionamento intenso, quase que o dia todo e intensificado bizarramente nas horas do rush, então tem que ter uma paciência para andar pela cidade (de carro, porque demora; a pé porque você precisa costurar para atravessar ruas e o cheiro de poluição dos carros e combustível é horrível, as vezes da até enjoo). O trânsito funciona com muita buzina, então rola uma poluição sonora também. Os carros são bem antigos num geral, os ônibus públicos são beeeeeeeeeeeeeeem antigos e o transporte público também é muito feito por vans (não usamos o transporte público da Bolivia então não sei os preços e a qualidade. Os táxis são muito baratos e não tem taximetro, então você fala onde quer ir e a pessoa te diz o preço. Pagamos no máximo 20 bolivianos para ir para lugares que seriam mais longes a pé ou a noite mais perigosos). Muitos muitos carros e ônibus tinham vários adesivos coloridos, brilhantes, ornamentos e coisas que customizavam o transporte (apesar dos ônibus na Argentina serem muito curiosos também). De qualquer forma é muito sussa dar rolês a pé (tirando que cansa bastante). Num geral as pessoas não dão muita bola para turistas, porque é super normal ver pessoas com mochilão (é incrível o numero de estrangeiros que a gente viu, fiquei boba! Há muitos europeus, muitos latinos - argentinos, chilenos, brasileiros e também muitos australianos e coreanos - pasmem! rs).
Eu percebi que há muitas crianças, bebês e crianças pequenas. As crianças bolivianas são muito fofas e lindas (eu nem gosto de criança, magina!) e os bebês são majoritariamente carregados pelas mães nas costas, com aquele pano que vira uma "bolsa" amarrado ou no colo (praticamente não vimos carrinhos de bebê) e as pequenas são bem "independentes": vi muitas andando sozinhas, brincando sozinhas... é curioso, vi poucas crianças chorando ou demandando muita atenção das mães e pais (mesmo os bebês nas costas, são muito quietinhos!).
A cidade é um misto de trajes culturais antigos (As mulheres conhecidas como Cholas num geral são mulheres mais velhas, que usam aquelas saias e aquele chapéu característico, além das tranças nos cabelos longos) e rola uma mistura com as roupas mais de esporte e o jeans, e roupas de marcas como north face, nike, adidas... tem muito disso. As meninas mais novas quase não usavam os trajes em La Paz, vi pouquíssimas.
Eu não consegui conversar muito com os bolivianos sobre a cultura deles. Tentei em alguns momentos, mas a maioria me tratava como uma turistona mesmo, alguém que ia comprar alguma coisa e só. Não fui destratada nenhuma vez, mas percebi um fechamento da parte da maioria quando o assunto era o país, os costumes ou suas vidas ou política (Obvio, não estou falando que isso é ruim. As pessoas tem uma vida e eu estava, de certa forma, me metendo, rs, mas eu achei curioso pois pensava que haveria uma abertura maior. Não sei dizer, de verdade, se tem a ver com ser brasileira ou não... não pude concluir nada sobre isso).
Reparamos que é uma cidade bastante militarizada - tem bases do exército e também tem muita polícia por lá, nas ruas. Além disso não vimos muitas lixeiras nas ruas (apesar de tampouco vermos muito lixo nas ruas - pelo contrário, vimos umas propagandas que dizia que "la basura mata" e incentivava as pessoas a não deixarem os lixos nas ruas). Algumas ruas são bem mais sujas e abandonadas... Rolam muitos "baño publico", uns banheiros as vezes com chuveiro, as veze sem, que ficam em predinhos e são indicados por placas e setas na rua e que sempre tivemos que pagar para usar (entre 0,50 e 2 bolivianos) e que são malcheirosos e por vezes sujos - mas que ao mesmo tempo podem salvar as nossas vidas! rs. Muitos banheiros (principalmente em povoados mais na região rural) não possuem água encanada então a descarga é moda antiga: balde. Nesses banheiros que pagamos para usar é normal te darem um pouco de papel, mas num geral é um papel bem fino e insuficiente por isso é importante ter uma bolsa com algumas coisas para se prevenir (principalmente se você estiver com uma dor de barriga - o que é bem possível de acontecer por causa da comida pesada e do tempero).
Vimos muitos grafites extremamente bonitos que retratavam as pessoas que vivem na cidade: as mulheres carregando as crianças, os bolivianos trabalhadores, os meninos que engraxam sapatos (há muitos, é incrível, e eles cobrem todo o rosto com um gorro deixando só os olhos de fora. E há de todas as idades, inclusive crianças e adolescentes), enfim, muita arte. Muitas mensagens políticas, principalmente em apoio ao Evo Morales e sua presidência ou relacionadas à eleição. Vimos muitas esculturas também, num geral ressaltando guerras e generais e oficiais militares (apesar de termos visto uma escultura de lata do Che, que foi assassinado na Bolivia e também em Uyuni algumas esculturadas de trabalhadores).
Há muitas lojas de artesanatos (todos iguais, portanto deve haver uma grande indústria ou cooperativa ou algo assim que alimente essas lojas) de roupas típicas de lã/semi (blusas, gorros, luvas, cachecóis, meias, etc) e mochilas, tênis e calças coloridas. Muitas coisas de prata (que não da pra saber quanto realmente são prata) e muitas bijuterias (lindas!) e tranqueirinhas também. Enfim, prato cheio para consumistas como eu (que ainda tenho muito que aprender porque não da pra ficar carregando peso em mochilão!).
A Bolívia é um país de contradições (e nós conhecemos muitas regiões bem pobres mesmo em meio aos nossos passeios turísticos: locais sem asfalto, sem água encanada e que ficavam piores por conta das chuvas frequentes). Vimos muitas pessoas trabalhando muito (construção civil, região rural, carregando coisas, comércio nas ruas, enfim) e acho que tivemos mais "contato" com essa parte mais pobre do que com a classe média de La Paz (praticamente não a vimos) e também não fomos para Santa Cruz, que dizem ser a parte mais rica da Bolivia.
É muito normal ter protestos - que inclusive influenciam a vida e o roteiro dos turistas (havia uma linha de trem bloqueada que atrasou em um dia a viagem de algumas pessoas) e em La Paz mesmo há muitas manifestações (e repressão - vimos a tropa de choque da policia boliviana) de sindicatos, comunidades, enfim, grupos reivindicando direitos. É legal ver e se informar sobre, mas tem que tomar cuidado com a abordagem.
Eu acho que em viagens como essa, que envolvem longos períodos em ônibus, que envolvem caminhadas longas, conhecer comunidades e povoados bastante diferentes do que estamos habituados (pelo menos eu como eu vivo) nos fazem também aprender a lidar com situações extremas, a desenvolver empatia e alteridade (sem brincadeira) e faz com que nos conheçamos melhores (a nós mesmos). Aprendemos muitos dos nossos limites e da nossa capacidade em lidar com obstáculos e com emoções e sensações em viagens assim - e isso é riquíssimo. Eu não conheci só a Bolívia, conheci a Julia que estava conhecendo a Bolívia, conheci e vivi a história que eu estava lendo num livro muito oportuno para essa viagem (As veias abertas da América Latina - Eduardo Galeano), conheci (ainda que superficialmente) uma parte da cultura desse país e dessas pessoas. Experimentei alguns limites pessoais e, sem brincadeira, tive pequenas mudanças de percepção de mundo que provavelmente se aprofundarão e me ajudarão a amadurecer.
A lição que eu tirei essa viagem foi, primeiro, que a Bolívia é um país sensacional - em diversos aspectos. Se eu detestei La Paz quando cheguei da primeira vez, da segunda a percepção mudou e na terceira vez senti que teria saudade (e tenho). A história é maravilhosa e a crença de que esse mundo pode ser um lugar maravilhoso para a maioria da população apareceu, apesar de que em alguns momentos a desesperança também tenha surgido (poque o feio, o triste, a pobreza, a miséria, enfim, também estão ali escancarados olhando pra gente). Viajar é simplesmente maravilhoso (e de fato vale mais do que consumir objetos desnecessários que nos trazem uma felicidade momentânea e superficial) porque além de nos apresentar mundos novos (literalmente) nos apresenta pessoas novas (é incrível como é fácil conhecer pessoas, mesmo pra mim que sou antisocial e tenho vergonha) que tem histórias lindas e que podem se transformar em grandes companhias. Viajar muda a gente, de diversas formas, e eu já voltei da Bolívia planejando mentalmente minha próxima partida.
Pra começar é importante destacar algumas coisinhas básicas: 1. lembrar que essa foi minha primeira viagem de "mochilão" então obviamente preciso aprimorar muitas coisas; 2. Ninguém (por mais tempo e dinheiro que você tenha) consegue conhecer uma cidade/lugar em apenas uma visita. 3. É muito importante você PLANEJAR de fato sua viagem: eu planejei a minha durante o ano todo e mesmo assim planejei muito mal em alguns sentidos, percebendo isso só durante a viagem, por isso queria registrar (pra Julia do futuro, inclusive) o que eu considero por PLANEJAR:
- Ler sobre o país que se pretende visitar (isso inclui ler, ainda que superficialmente, sobre a história do país, a situação social e política e também, óbvio, os lugares turísticos - as belezas históricas e naturais, os picos de diversão, etc.). Além disso, é INDISPENSÁVEL saber sobre as condições naturais do país: clima, vegetação, relevo, etc.
- Saber como o país anda economicamente é muito importante: tente pesquisar um pouco antes de ir como estão os preços de hospedagem em hostels/hotéis, refeições, cerveja, ônibus/metrô, passeios. Tentar saber como anda a moeda do país e a situação econômica é fundamental.
- Pensar nos dias que se gasta por passeio/cidade/país é importante. Na minha viagem eu tentei planejar os dias certinhos, tintin por tintin e, no final, acabamos largando a Bolívia para a sorte grande: "temos 10 dias na Bolívia. fim". Ainda que todo mundo que eu conheci e conversei durante a viagem tenha me dito que mudou o planejamento inicial, é importante que se elabore pelo menos um esboço do que se quer fazer (não entupindo todos os dias de coisa, porque sabemos que isso é humanamente impossível). Esse esboço pode se alterar por inúmeros motivos, mas é importante se ter uma noção prévia do que é possivel fazer e do que se quer fazer. E lembrar que pelo menos algumas horas ou até um dia será necessário para descansar ou não fazer nada (ficar no hotel dormindo ou vendo tv) e também comer coisas mais habituais (nós fomos comer no burger king, por exemplo) ou comer em algum lugar mais caro mas com mais qualidade (enfim, nossos corpos tem alguns limites e respeitá-los/entendê-los é importante para não fodermos a viagem toda depois).
*Pegamos um câmbio onde R$1,00 = 2,35/2,40 bolivianos (para as possíveis conversões).
1. Os pré-viagem:
Minha viagem começou dia 02 de janeiro para Buenos Aires (mais clichê) e seguimos para a Bolívia no dia 07 de janeiro. Comprei um mochilão de 52 litros da Quechua que era o que eu podia pagar (a escolha do mochilão é sempre um grande dilema, porque a maioria é bem cara e a gente num entende muito disso - e eu confesso que comprei o meu meio no "chute" e no valor dele). Comprei também uma capa de chuva para a bolsa e uma toalha de banho que eu só vejo vender na Decathlon que é aquelas que secam super rápido - e eu recomendo MUITO que todo mundo tenha uma toalha dessa porque ela é super pequena e seca bem. Também recomendo muito que compre uma capa de chuva boa e de qualidade ou um casaco com capuz impermeável (eu tive que usar uma capa de chuva que compramos na rua dessas que vende em shows/jogos de futebol na rua por 5 bolivianos. Era boa, mas não muito confortável). Outra coisa que eu não comprei e me arrependo muito é aquelas mantas térmicas de acampamento. A Bolívia é um país meio frio em alguns picos e eu passei frio em alguns momentos. Essa manta fica super pequena e não ocupa muito espaço na mala.
Para a Bolívia (e acredito que praticamente todos os países, na moral, mas para viagens que sabemos que encontraremos lugares mais precários) é importante você levar lencinhos de papel (ou papel higiênico) e lencinhos umedecidos (juro!) e também aqueles protetores de acento sanitário que vendem em farmácia. Não esquecer também de remédios básicos: para enjoo, para vômito, para dor de cabeça/dor de estômago e esse tipo de coisa.
Um tênis bem confortável e um bom par de chinelos para mim foram indispensáveis. Também não abra mão de protetor solar e d'um óculos de sol.
2. Sobre mochilar, se hospedar, comer, se divertir...:
Cometemos um erro que algumas pessoas nos "avisaram" e que eu acho importante ressaltar: por mais que existam sites de reservas de hotéis e hostels (booking.com, por exemplo) foi a maior furada reservar nossos hotéis pela internet. Normalmente é cobrada uma taxa das pessoas que reservam por esses sites, no nosso caso fomos taxados em um hotel na Argentina e um na Bolivia em 13%!!!! Na Bolívia ainda rola um adicional: quase nenhum lugar aceita cartão de crédito e hoteis e agências de viagem que aceitam muitas vezes cobram uma taxa de 6 a 7% em cima do valor :(
Sigam o velho conselho de reservar um quarto quando chegar na cidade (principalmente se tratando de cidades bastante turísticas, como foi o caso de La Paz e também Buenos Aires). Ao chegar de viagem você pode procurar os hostels perguntando as opções de quarto que estão disponíveis e os valores e muitos lugares te permitem ver as acomodações. Você pode pegar um e, caso tenha problemas, no dia seguinte sair em busca de um novo lugar (coisa que não pudemos fazer com lugares pré-reservados). Em La Paz a opção de hostels e hotéis é gigantesca e os preços não são muitos altos. O primeiro hostel que ficamos, Hostel Copacabana, foi reservado pela internet e pago com cartão e nos saiu uns 215 bolivianos a diária (quarto duplo com banheiro privado). Eu gostei da equipe que nos atendeu e do café da manhã servido, mas as acomodações são meio fracas. A localização é boa para dar rolês mas péssima para dormir e o quarto é meio gelado. O banheiro estava com o box quebrado e ensopava quando tomávamos banho, era bem gelado e a água não esquentava muito. A iluminação do lugar é meio ruim, tem um aspecto "sombrio". O hostel que ficamos em Copacabana era terrível e custou 140 bolivianos a diária (quarto duplo, banheiro privado) Ele tinha um cheiro horroroso e o banheiro era meio precário. Voltando de Copacabana nos hospedamos em um hotel chamado Sagarnaga, muito bom! A diária foi 220 bolivianos (mais cara) por um quarto duplo com banheiro privado. O quarto era quentinho, a cama confortável, tinha televisão e o chuveiro esquentava e não molhava o banheiro. O café da manhã foi ótimo e nós pagamos com cartão sem sermos taxados! Por fim nos hospedamos num hostel famoso, o Loki, que nos surpreendeu. Apesar de realmente ser loki (tem um bar no ultimo andar onde a galera enche a cara e fica muuuuuuito louca, rs) o quarto era bem quentinho, o banheiro era muito bom e o chuveiro esquentava bastante. Foi o lugar mais limpo que nos hospedamos, pagamos 160 bolivianos por um quarto duplo com banheiro privado (o ruim é que não tem café da manhã incluso, o que é uma boa mão na roda das pessoas que querem economizar grana). Óbvio que se for envolver outros picos pela Bolivia (ou qulquer país que tem suas regiões mais pobres ou precárias) podemos estar falando de coisas diferentes das que estamos habituados e, portanto, níveis de conforto/desconforto que não conhecemos ou hábitos que não temos e que estranharemos no início. Por isso é fundamental estar preparado para lidar com situações inesperadas!
Na Bolivia que nós vivemos da para se comer muito bem (na verdade pelo que eu vi da movimentação dos comerciantes de rua os pratos deles num geral são muito bem servidos!) e se pagar relativamente pouco. Tem muitas opções de restaurantes que cobram um valor fixo (que varia de uns 10 a 20 bolivianos) por uma refeição que inclui: salada, sopa, prato principal e sobremesa. Nós achamos um restaurante que nos agradou muito e que comemos muito bem. Tem muitos lanches também (todos eles vem acompanhados de batatas fritas, pelo menos nos lugares onde fomos) e pizzas. A garrafa de água de 2 litros custava entre 6 e 8 bolivianos e a coca "popular" (500 ml) era uns 6 bolivianos num geral. As comidas tem um tempero bastante peculiar, mas num geral são muito gostosas. Come-se muita batata (frita ou cozida), pão, carne (de frango - frito, vaca, lhama, peixe, porco). Também rola bastante massa (macarrão) e rola arroz, quinoa, milho, tomate, cenoura, pepino - e sopas! Tem muitas frutas por lá também: morango, banana, maçã verde, pessego, manga... Enfim, é bastante variado. Tem os famosos salgados e quitutes de rua (incluindo umas empanadas que eu particularmente não curti porque tinha uma massa doce :~). Eu recomendo que sempre se de uma olhada no restaurante onde vai comer (tem a ver com um julgar pela aparência sim, mas infelizmente numa viagem tão longe de casa e com dias contados não da para arriscar passar mal) e se algo não te agradar, procure outro. Comer comida é sempre melhor do que ficar comendo só lanche e fast food. Aliás, lá não tem McDonalds. O que rola é um Burger King e um Subway que ficam juntos (e que financeiramente equivalem ao que pagamos no Brasil, talvez um pouco mais até). As comidas são bem servidas, por isso eu recomendo que não se cabeçude em pratos elaborados que tem nos restaurantes quando se vai em dois ou mais pessoas: peça um, avalie o tamanho e a fome primeiro. Eu deixei sobrar comida ou me entupi para não sobrar em algumas vezes e isso não é bom. Eu recomendo comer sempre devagar e esperar um pouco antes de sair dando altos roles - a altitude foi um grande problema pra mim.
Todos os passeios que você vai fazer serão através de agências. Alguns (que incluem viagens) é possível comprar as passagens de ônibus diretamente no terminal, mas tem uns que o transporte vai ter que ser pela agência. Por exemplo: fizemos o passeio para Chacaltaya e Valle de La Luna que incluía transporte e guia que era 80 bolivianos por pessoa (a entrada no monte e a entrada no valle eram pagas no dia do passeio e saia 30 bolivianos as duas 15+15). Compramos o transporte para a cidade de Copacabana pelo Hostel e pagamos 140 bolivianos ida e volta (talvez seja mais barato no terminal, pois o hostel vende para uma agência). Por último fizemos Uyuni e compramos tudo de uma agência que nos vendeu o transporte de um ônibus semi cama por 170,00 bolivianos (ida) 170,00 (volta) e o passeio de um dia saiu em torno de uns 250 bolivianos por pessoa. O total para duas pessoas (com taxas do cartão) foi de 1.234,00 bolivianos. Nós saímos de La Paz às 19:00 da quarta-feira e chegamos em Uyuni às 08:00 da quinta (parece que todos os onibus saem diariamente para Uyuni sempre nesse horário e há varias companhias que fazem o trajeto. São mais ou menos 12 horas de viagem com 1 ou duas paradas em ônibus cama ou semi-cama, com banheiro - impossível de usar, diga-se de passagem). Lá o passeio tem inicio às 10:30 e como fizemos o de um dia retornamos à cidade de Uyuni por volta das 17:30 (não pudemos fazer visita a Ilha do Pescador - que cobra 30 bolivianos por pessoa para entrar, por conta das chuvas que alagaram uma parte da região). Lá os onibus que tem como destino La Paz saem todos os dias às 20:00 e chegam umas 08:00 ou 09:00, também com parada.
**Compensa muito procurar por ônibus que saiam ou de madrugada/cedinho (quando a viagem for de até umas 5/6 horas - como foi o caso de Copacabana) ou que saem a noite e passam a noite viajando chegando no destino pela manhã, porque isso pode equivaler como uma diária de hospedagem (um pouco mais caro e incômodo, claro). Compensa porque otimiza o tempo também: é mais fácil dormir no ônibus a noite e viajando e chegar no destino final de manhã. Se você for ficar hospedado no lugar por um ou mais dias, você já chega e procura um hostel, descansa um pouco e ai da inicio ao planejamento do dia. Se for um passeio de um dia é possível esperar na agência que você contratou ou em algum restaurante tomando um café da manhã. De qualquer forma minha recomendação é que se compre a passagem diretamente no terminal de ônibus (de preferência não deixar pra última hora porque o uso dos ônibus como transporte na Bolivia é intenso e todos os que eu viajei foram cheios, mesmo que tenha muitas companhias) a passagem de uma amiga que fizemos na viagem saiu 20 bolivianos mais barato para um ônibus semi cama também (sei que parece pouco, mas em viagens qualquer tipo de economia é muito importante - tanto para os imprevistos quanto para sobrar uma graninha no final para os souvernirs - já que eu adoro presentinhos hahaha). Os passeios, num geral, devem ser comprados em agências (tirando esses city tour que eu realmente não recomendo já que eu acho muito mais legal e divertido conhecer as cidades carregando um mapa, pedindo informações e sabendo um pouquinho da história e dos lugares para onde se está indo). Esses picos tipo o Chacaltaya, Tiwuanaku (ruínas de uma civilização pré-incaica que não visitamos, infelizmente), Salar de Uyuni, enfim, eu já recomendo guias porque eles manjam do rolê e ainda contam várias coisas legais que a gente não faz ideia, assim como alguns passeios alternativos que eu vi que rolam por lá tipo uns rolês de bike, umas trilhas (que eu particularmente não curto, mas pra quem curte é sempre importante fazer com quem manja).
Acabamos não conhecendo a vida noturna da cidade por falta de tempo e dinheiro, além do cansaço que Uyuni nos proporcionou, mas há bares/pubs e baladas. Há aqueles só para turistas e aqueles só para os bolivianos que moram em La Paz - tem de tudo. Eu queria ir em algum lugar onde só vão bolivianos, mas mesmo as pessoas que moravam lá não me recomendaram muitos, argumento que esses lugares não são muito legais (eu queria escutar e dançar a música que eles curtem e que eles fazem, rs) e me recomendaram lugares "mistos" onde eu poderia ouvir música boliviana/andina/reggaeton/salsa, enfim, e me divertir. O ruim é que os lugares para turistas num geral são bem mais caros para nós, latinos, que temos pesos, reais, sóleis, enfim.... A galera das gringa tem mais sorte com isso. A garrafa de Paceña (cerveja produzida em La Paz) de 600 ml ou 1 litro girava em torno de 20 ou 35 bolivianos nos lugares onde fomos. Eu bebi super pouco lá, porque achei que além de tudo a cerveja me pesava muito (não sei se era a cerveja em si ou a altitude). É bom sempre pedir indicaçoes de lugares para ir (para bolivianos ou estrangeiros) e não ter medo nem vergonha de entrar nos lugares (nenhum nos cobrou entrada ou couvert artistico) ver o cardápio e se achar caro demais ir embora.
3. Dicas gerais:
Eu reparei que tomar chá de coca com aniz me ajudou muito com o estômago de fada que eu tenho (eu curto muito comer qualquer coisa praticamente, mas meu estômago é meio chato e meu intestino também, então passo mal, tenho dor de barriga e enjoos com frequência) assim como mascar a coca (peça para um boliviano ou alguém que manja, te ensinar) apesar de não ser muito gostoso e tomar um remédio chamado Soroch Pil (vende nas farmácias lá de boa) me ajudaram muito na questão da altitude. A cabeça dói bastante, não se iludam, e a gente fica MUITO cansado (ainda mais porque tem muitas escadas e muitas subidas na cidade). Também é indispensável tomar MUITA água - a gente acaba esquecendo por conta do frio, mas ajuda DEMAIS a dissipar essa leseira e mal estar da altitude e também nos deixa hidratados (porque acabamos suando sem perceber). Recomendo sempre comprar a água e só pedir gelo quando souber que é confiável.
Saber um pouco como é a lingua do país é bem importante e, mais do que isso, saber como falar algumas coisas que serão recorrentes na viagem também. Eu não tive vergonha em usar um guia de conversação nos primeiros dias, rs. É legal mostrar que você se esforça para falar o espanhol, ou pelo menos o portunhol (eu senti que como brasileira eu não era muito américa latina, enquanto que a galera que eu conheci que fala o espanhol era mais "próxima", "amiga". Por isso acho importante mostrar que respeitamos e conhecemos um pouco da língua). É bom também porque da para chorar uns precinhos (no comércio em geral eles dão uns pequenos descontos, na agência eu tentei explicar que era professora e etc. Como deixamos para última hora a compra do passeio tivemos um desconto pequeno, mas se estivessemos em mais pessoas ou tivessemos comprado com mais antecedência o desconto seria maior, por isso sempre rola de perguntar para conhecidos ou quando for com mais amigos fechar o passeio todos juntos!).
O que vi muita gente fazer e acho que super compensa (apesar de termos ficado poucos dias e não ter sido necessário) é usar o serviço de lavanderia. No último hostel que ficamos o valor era por kg: 1 kg = 10 bolivianos e a lavagem de um dia para o outro. Acumular roupas sujas e lavar durante a viagem ajuda a diminuir a bagagem inicial.
4. Por fim, minhas impressões:
A Bolivia é um país maravilhoso principalmente do ponto de vista natural (imagina antes da colonização e usurpação né?) e eu fiquei encantadíssima com as paisagens naturais de lá, de verdade, me apaixonei imensamente e sei que conheci muito pouco perto do que ainda tem. É foda, porque eu senti que era uma viagem de contradições o tempo todo. Quando saimos do aeroporto rumo a La Paz e o taxista parou num lugar para tirarmos uma foto a primeira recordação que tive foi de uma cidade favela: a organização vertical do lugar que em muitos picos sobe até o meio de grandes montanhas e as cores da casa, além de algumas ruas bem estreitas, me fizeram pensar nisso. Mas tem coisas que em nada lembram as favelas, até porque não é uma cidade no morro - é uma cidade como que num buraco, rodeada por montanhas altíssimas com picos de gelo e que avançam em alguns lugares pelos morros. A região central é bastante pobre e amontoada. Ai tem uma espécie de faixa mais "classe média" e depois volta a ser o amontoado de novo (há a região da zona sul, praticamente outra cidade, onde moram pessoas de classe média alta).
Quase não há semáforos, o trânsito é SUPER caótico e tem um congestionamento intenso, quase que o dia todo e intensificado bizarramente nas horas do rush, então tem que ter uma paciência para andar pela cidade (de carro, porque demora; a pé porque você precisa costurar para atravessar ruas e o cheiro de poluição dos carros e combustível é horrível, as vezes da até enjoo). O trânsito funciona com muita buzina, então rola uma poluição sonora também. Os carros são bem antigos num geral, os ônibus públicos são beeeeeeeeeeeeeeem antigos e o transporte público também é muito feito por vans (não usamos o transporte público da Bolivia então não sei os preços e a qualidade. Os táxis são muito baratos e não tem taximetro, então você fala onde quer ir e a pessoa te diz o preço. Pagamos no máximo 20 bolivianos para ir para lugares que seriam mais longes a pé ou a noite mais perigosos). Muitos muitos carros e ônibus tinham vários adesivos coloridos, brilhantes, ornamentos e coisas que customizavam o transporte (apesar dos ônibus na Argentina serem muito curiosos também). De qualquer forma é muito sussa dar rolês a pé (tirando que cansa bastante). Num geral as pessoas não dão muita bola para turistas, porque é super normal ver pessoas com mochilão (é incrível o numero de estrangeiros que a gente viu, fiquei boba! Há muitos europeus, muitos latinos - argentinos, chilenos, brasileiros e também muitos australianos e coreanos - pasmem! rs).
Eu percebi que há muitas crianças, bebês e crianças pequenas. As crianças bolivianas são muito fofas e lindas (eu nem gosto de criança, magina!) e os bebês são majoritariamente carregados pelas mães nas costas, com aquele pano que vira uma "bolsa" amarrado ou no colo (praticamente não vimos carrinhos de bebê) e as pequenas são bem "independentes": vi muitas andando sozinhas, brincando sozinhas... é curioso, vi poucas crianças chorando ou demandando muita atenção das mães e pais (mesmo os bebês nas costas, são muito quietinhos!).
A cidade é um misto de trajes culturais antigos (As mulheres conhecidas como Cholas num geral são mulheres mais velhas, que usam aquelas saias e aquele chapéu característico, além das tranças nos cabelos longos) e rola uma mistura com as roupas mais de esporte e o jeans, e roupas de marcas como north face, nike, adidas... tem muito disso. As meninas mais novas quase não usavam os trajes em La Paz, vi pouquíssimas.
Eu não consegui conversar muito com os bolivianos sobre a cultura deles. Tentei em alguns momentos, mas a maioria me tratava como uma turistona mesmo, alguém que ia comprar alguma coisa e só. Não fui destratada nenhuma vez, mas percebi um fechamento da parte da maioria quando o assunto era o país, os costumes ou suas vidas ou política (Obvio, não estou falando que isso é ruim. As pessoas tem uma vida e eu estava, de certa forma, me metendo, rs, mas eu achei curioso pois pensava que haveria uma abertura maior. Não sei dizer, de verdade, se tem a ver com ser brasileira ou não... não pude concluir nada sobre isso).
Reparamos que é uma cidade bastante militarizada - tem bases do exército e também tem muita polícia por lá, nas ruas. Além disso não vimos muitas lixeiras nas ruas (apesar de tampouco vermos muito lixo nas ruas - pelo contrário, vimos umas propagandas que dizia que "la basura mata" e incentivava as pessoas a não deixarem os lixos nas ruas). Algumas ruas são bem mais sujas e abandonadas... Rolam muitos "baño publico", uns banheiros as vezes com chuveiro, as veze sem, que ficam em predinhos e são indicados por placas e setas na rua e que sempre tivemos que pagar para usar (entre 0,50 e 2 bolivianos) e que são malcheirosos e por vezes sujos - mas que ao mesmo tempo podem salvar as nossas vidas! rs. Muitos banheiros (principalmente em povoados mais na região rural) não possuem água encanada então a descarga é moda antiga: balde. Nesses banheiros que pagamos para usar é normal te darem um pouco de papel, mas num geral é um papel bem fino e insuficiente por isso é importante ter uma bolsa com algumas coisas para se prevenir (principalmente se você estiver com uma dor de barriga - o que é bem possível de acontecer por causa da comida pesada e do tempero).
Vimos muitos grafites extremamente bonitos que retratavam as pessoas que vivem na cidade: as mulheres carregando as crianças, os bolivianos trabalhadores, os meninos que engraxam sapatos (há muitos, é incrível, e eles cobrem todo o rosto com um gorro deixando só os olhos de fora. E há de todas as idades, inclusive crianças e adolescentes), enfim, muita arte. Muitas mensagens políticas, principalmente em apoio ao Evo Morales e sua presidência ou relacionadas à eleição. Vimos muitas esculturas também, num geral ressaltando guerras e generais e oficiais militares (apesar de termos visto uma escultura de lata do Che, que foi assassinado na Bolivia e também em Uyuni algumas esculturadas de trabalhadores).
Há muitas lojas de artesanatos (todos iguais, portanto deve haver uma grande indústria ou cooperativa ou algo assim que alimente essas lojas) de roupas típicas de lã/semi (blusas, gorros, luvas, cachecóis, meias, etc) e mochilas, tênis e calças coloridas. Muitas coisas de prata (que não da pra saber quanto realmente são prata) e muitas bijuterias (lindas!) e tranqueirinhas também. Enfim, prato cheio para consumistas como eu (que ainda tenho muito que aprender porque não da pra ficar carregando peso em mochilão!).
A Bolívia é um país de contradições (e nós conhecemos muitas regiões bem pobres mesmo em meio aos nossos passeios turísticos: locais sem asfalto, sem água encanada e que ficavam piores por conta das chuvas frequentes). Vimos muitas pessoas trabalhando muito (construção civil, região rural, carregando coisas, comércio nas ruas, enfim) e acho que tivemos mais "contato" com essa parte mais pobre do que com a classe média de La Paz (praticamente não a vimos) e também não fomos para Santa Cruz, que dizem ser a parte mais rica da Bolivia.
É muito normal ter protestos - que inclusive influenciam a vida e o roteiro dos turistas (havia uma linha de trem bloqueada que atrasou em um dia a viagem de algumas pessoas) e em La Paz mesmo há muitas manifestações (e repressão - vimos a tropa de choque da policia boliviana) de sindicatos, comunidades, enfim, grupos reivindicando direitos. É legal ver e se informar sobre, mas tem que tomar cuidado com a abordagem.
Eu acho que em viagens como essa, que envolvem longos períodos em ônibus, que envolvem caminhadas longas, conhecer comunidades e povoados bastante diferentes do que estamos habituados (pelo menos eu como eu vivo) nos fazem também aprender a lidar com situações extremas, a desenvolver empatia e alteridade (sem brincadeira) e faz com que nos conheçamos melhores (a nós mesmos). Aprendemos muitos dos nossos limites e da nossa capacidade em lidar com obstáculos e com emoções e sensações em viagens assim - e isso é riquíssimo. Eu não conheci só a Bolívia, conheci a Julia que estava conhecendo a Bolívia, conheci e vivi a história que eu estava lendo num livro muito oportuno para essa viagem (As veias abertas da América Latina - Eduardo Galeano), conheci (ainda que superficialmente) uma parte da cultura desse país e dessas pessoas. Experimentei alguns limites pessoais e, sem brincadeira, tive pequenas mudanças de percepção de mundo que provavelmente se aprofundarão e me ajudarão a amadurecer.
A lição que eu tirei essa viagem foi, primeiro, que a Bolívia é um país sensacional - em diversos aspectos. Se eu detestei La Paz quando cheguei da primeira vez, da segunda a percepção mudou e na terceira vez senti que teria saudade (e tenho). A história é maravilhosa e a crença de que esse mundo pode ser um lugar maravilhoso para a maioria da população apareceu, apesar de que em alguns momentos a desesperança também tenha surgido (poque o feio, o triste, a pobreza, a miséria, enfim, também estão ali escancarados olhando pra gente). Viajar é simplesmente maravilhoso (e de fato vale mais do que consumir objetos desnecessários que nos trazem uma felicidade momentânea e superficial) porque além de nos apresentar mundos novos (literalmente) nos apresenta pessoas novas (é incrível como é fácil conhecer pessoas, mesmo pra mim que sou antisocial e tenho vergonha) que tem histórias lindas e que podem se transformar em grandes companhias. Viajar muda a gente, de diversas formas, e eu já voltei da Bolívia planejando mentalmente minha próxima partida.