Da verborragia que eu sinto quando consigo falar mas não há escuta.


Nenhuma descrição de foto disponível.

O único título que vem na minha cabeça para combinar com o humor de hoje é verborragia misândrica. A parte o fato de achar que a misandria como escolha política não resolve nossos problemas de desigualdade de gênero e exploração, hoje particularmente foi um daqueles dias em que não fazia nenhum e absolutamente nenhum sentido para mim tentar continuar dialogando com homens. Nenhum: homem. 

Verborragia é bom porque não precisa mesmo de organização, já que na minha cabeça o que eu consigo unir entre muitas interjeições truculentas, ofensivas e esvaziadas de qualquer conteúdo (embora cheias de sentimentos) são ideias que estão muito confusas sobre o que eu quero falar que é o meu verdadeiro problema hoje. Porque, na verdade pra ser bem sincera, o meu problema é um monte de coisa. 

Então, eu sei olhar pra esse cenário de caos que estamos vivendo dentro da educação pública no estado de São Paulo e pensar: isso aqui é o caos. E é o caos porque não é só um problema de educação ou da educação - como se concebem as vezes umas certas "esferas" da vida social que funcionariam de forma independente. O problema é da raiz dessa sociedade: é um problema de ideologia, porque tem a ver com nossas ideias sobre mundo, nossos valores, nossas formas de nos relacionar entre nós e com nosso meio, de onde somos, a natureza. O problema é a falta de saúde pública, de empregos decentes e de oportunidades de vida pras pessoas. É ausência da cultura na vida das pessoas - de ler, assistir, ver, refletir, se sensibilizar (Coloquemos uma ênfase aqui: onde é que aprendemos a desenvolver a capacidade de sensibilizar?).

Eu posso dizer também, e essa é famosa em qualquer tipo de discurso: é um problema de estrutura familiar. Falta de recursos para manter funcionando uma vida coletiva harmônica num lar. Crescimento e desenvolvimento dos sujeitos sociais em suas máximas potências, capacidades, sensibilidades. É falta de cuidado, de carinho, de escuta, então o problema é ausência de políticas públicas de moradia, lazer, cultura, saneamento básico, emprego, educação. O que acontece? Estamos nos formando pessoas desse jeito e esse jeito está mostrando pra nós que tem formado pessoas que já não mais conseguem viver e pensar em viver coletivamente de forma equilibrada. 

E aí tem a escola, porque essa verborragia tá longe ainda de chegar no seu motivo central. E a escola que está sendo destruída, desorganizada, precarizada de forma permanente nos quase 30 anos de gestão e implementação de uma política e uma visão do que é educação que acha que esse tanto de escola, de professor e de aluno existindo deveria estar colocando DINHEIRO no bolso de umas POUCAS pessoas. E obviamente que eu vou dizer: o problema é a porra  do nosso salário. E como bem lembrou uma colega hoje, porque a realidade dos professores da rede pública do estado de São Paulo é a realidade de precarização da maior parte dos brasileiros e brasileiras que vivem nesse país, esses salários de merda que não permitem que essas pessoas consigam existir direito.

Ah, e esse é um puta problema. Essas pessoas TODAS, nós, NÃO CONSEGUIMOS SEQUER EXISTIR DIREITO. E aí, na nossa rede pública de ensino, isso significa que a gente sequer consegue cumprir um papel que nós tanto acreditamos e achamos importante e investimos e construímos e refletimos que é o papel de ser professor. A gente vira um pouco de tudo. Às vezes a gente consegue dar aula - pra um tanto de outras pessoas que também não estão conseguindo, dentro dessa estrutura toda da vida, existir direito. Então nesses dias a gente é professor, professora. Mas na grande maioria do tempo nós somos atores e atrizes (de péssimo gosto, vocês verão) que atuam de acordo com as normativas e determinações daqueles que misteriosa e magicamente estão acima e vem (e veem) de cima. 
(Ponto para: curiosamente ainda que na posição privilegiada de estarem em cima e ditarem todas as regras, possuem mágica capacidade de enxergar apenas quando quer e o que quer. E, em suma melhor ainda: não usam e não querem usar capacidade de escutar. Só falar - e mandar). 

Fingir ensinar. Fingir aprender. Uma relação sem trocas - se fosse só isso, mas a neutralidade, amigos e amigas, essa lenda é linda! 

Somos amigos também, confidentes. Recebemos uma demanda enorme de problemas. Demanda mesmo: afetiva, de escuta, de carinho. Somos também algum tipo de lugar de um certo descarrego o que nos torna um perfeito saco de pancadas. OBJETO de evasão: de ódio, de raiva, de violência. E eu me pergunto muitos dias da minha vida em que volto da escola: Por que? Como uma socióloga antropóloga fico pensando nas múltiplas coisas que explicam isso, afora tudo que já deixei escapar. Percebo a linguagem da violência, duma sociedade violentada e violenta em todo seu processo de formação. A linguagem da violência que é a que majoritariamente o Estado se faz presente na vida da maior parte das pessoas: seja no autoritarismo da sua "força legitima e pacificadora" (muita, muita, muita ironia. Melhor chamar de: exercito, polícia), seja na ausência de tantas políticas públicas que deveriam atender essa sociedade. Essa coisa que gera revolta. Toda essa presença e ausência gera revolta. Se reproduz no íntimo das famílias e se devolve, se regurgita nos espaços onde isso minimamente pode sair pra fora: a escola.

Penso que, no contato direto entre as gentes todas: essas pessoas todas, professores, alunos, diretores, coordenadores, pais, mães... isso tudo vai sair pra fora. Estar ali no cotidiano, representando um lugar que cobra muito, exige muito, ao mesmo tempo que ensina muito, cutuca muito, faz pensar muito... Tudo isso também de certa forma se verborragia. Só que em nós. Só que de forma, obviamente, violenta. Então a gente é além de cuidador, professor, educador, amigo, confidente, saco de pancada. Ou motivo de deboche, de escárnio. A violência da vida de professores e professores é tão variada tão extensa tão multideterminada.... E não é sobre isso que eu queria verborragir (existe?)

Eu tenho estado desde o começo do ano cantando uma bola: se a violência contra professores em gênero neutro aumentou, então a violência contra professoras mulheres aumentou mais. A sociedade explica isso. A violência contra as mulheres é uma das que mais tem crescido no Brasil e no mundo nos últimos 2 anos, anos esses que tem sido politicamente estranhos, esquisitos, fascistas, autoritários, sanguinários, conflituosos, mesquinhos, destruidores. Muita coisa ta no liminar de acabar, e grupos historicamente oprimidos e explorados vão sentir isso muito mais. E eu vejo isso não só porque as noticias e estatísticas e pesquisas estão dizendo, os filósofos filósofas e estudiosos estão dizendo, os e as ativistas políticos das mais variadas causas estão dizendo... Eu digo isso porque eu estou somando minha voz como uma pessoa que está vendo e vivendo essa violência.

E então, eu to ali falando: esses alunos, homens em geral, que apresentam comportamentos agressivos, debochados, autoritários e desrespeitosos em sala de aula tem uma característica em comum: eles são MUITO machistas. (Eu não quero chamar de misógino ainda, apesar de achar que sim, há bastante disso já perceptível também). São alunos que no trato direto, no téte a téte (portugueisado) se fazem notar. São alunos que em aulas sobre desigualdade de gênero, por exemplo, se incomodam a ponto de fazerm diversos comentários que deslegitimam não só movimentos políticos que se mobilizam em defesa das mulheres, também expressam através das suas ideias o porquê da desigualdade existir - e em geral buscam comprovar que as mulheres são sim, em muitos e diferentes aspectos, inferiores. Que há sim merecimento para a violência e abuso sexual ou, ainda, agressões físicas. E eu juro que poderia escutar em algum grau de desenvolvimento desse tipo de discussão explicações e legitimações para feminicídios. Eu não acho exagero. 

E, além disso, os pensamentos que são expressados nas falas, e nos gestos, e nos atos, e nas brincadeiras, e nos comportamentos... Isso é inacreditável de ver. E quando eu digo isso, eu quero dizer muito enfaticamente que o machismo se capta nos detalhes, detalheszinhos, muitas e muitas e muitas vezes antes dele ser a expressão máxima do cara que da 49 facadas na mulher porque ela se recusou a transar com ele (algo assim, retratado tão cruelmente por Frida Kahlo - unos cuantos piquetitos). Ah, e pra ser óbvia, não to dizendo que todas as histórias terão os mesmos cruéis destinos, mas vou dizer que toda vez que a gente escolhe (porque escolhe) não falar sobre isso ou não cutucar um pouco essa ferida, ver o que aparece ai.... Isso é tornar de certa forma mais possível que essa violência vire algo pior, e pior, e pior. 

A impressão que eu tenho é que existem homens que enxergam - veem - as mulheres como menores. Uma subcategoria da humanidade, uma sub pra menos. Algo que no pensamento deles JUSTIFICA uma inferioridade que descapacita o ser de ser ser. Essa construção ia ficar confusa mesmo. É aquela história de não achar que algo que está fora de mim - do Eu - seja um sujeito também. ALTERIDADE - ou melhor, a incapacidade da alteridade, de reconhecer que existem tantos outros sujeitos na nossa sociedade vivendo com a gente, existindo, pensando, sentindo. Eu acho que já existe uma incapacidade de alteridade generalizada na nossa sociedade - mas quando se trata dessa opressão específica, eu vejo que há uma crueldade nessa concepção do trato que se dispensa àquela que vale menos. 

Ser mulher: ser menos importante, ser menos (ou não ser) um alguém. Eu acho que é uma ideia de que não há nada de útil que se escutar de uma mulher falando. Talvez um determinado tipo de mulher, não sei. Você tenta se provar, porque faz parte,  busca construir a confiança. Mas parece que tem uma ideia martelando na cabeça do cara que você não presta - que é merda nenhuma. Que não tem que ser levada a sério, é piada. Perdi a conta de quantas vezes eu estava falando alguma coisa, explicando algo e um cara começou a falar junto comigo. Em cima de mim, me atravessando - literalmente como se eu não estivesse ali. Perdi a conta do número de vezes que eu chamei atenção de um homem e fui tratada com absoluta indiferença, de precisar chamar duas, três vezes. Perdi a conta das vezes que um aluno tentou me tirar de louca. Ou quando chamei atenção, numa boa, e já recebi um direto de entrada, pra começar. Já fui chamada de filha da puta e vadia e já me mandaram tomar no cu algumas vezes. Fora as sutis e leves, escorregadias ameaças. Todas essas vezes soube reconhecer muito bem as palavras que vinham como uma explosão de muitas raivas e que infelizmente encontraram aquilo ali o momento da erupção; das pessoas que tinham ou tem algum tipo de maldade, de escarnio, de ódio. 

Eu acho que tem muita coisa que contribui para essa paradoxal boa/péssima faculdade e qualidade da sensibilidade. Eu não sei se é por ser mulher, por ter feito ciências sociais, por ter trabalhado onde trabalhei, por ter lido tudo que li mas eu sei que eu consigo perceber isso. Eu tenho uma capacidade enorme de compreensão e empatia - de alteridade. E fora tudo o que ainda me falta aprender, eu consigo entender o caldeirão de coisas que formou esses homens, esses alunos, esses jovens. E eu acho foda, porque eu tenho um monte de contradição - eu sinto raiva, muita raiva, de carregar muito desaforo pra casa e me sentir impotente não podendo fazer nada. E às vezes eu tento colocar a mão na massa de algum jeito, trabalho de formiga, tentando construir um contradiscurso pra isso tudo, uma outra forma de ver e agir - fazer circular uma ideia, atuar pela palavra, pela reflexão. 

E isso precisa ser pra mim, pros alunos e pras alunas, pros colegas professores e professoras, pra direção, pras funcionárias. Porque eu fico pensando que não faz sentido a escola não falar da mesma coisa, cada qual a sua maneira, e da mesma coisa dentre inúmeras coisas que nos afetam a todos nós todas ali dentro. E essa parte é foda - porque hoje eu percebi o que eu já venho percebendo muito essa falta de vontade de fazer práxis; essa acomodação passiva agressiva a uma estrutura escolar que tá fadada ao fracasso às custas de moer muitos sonhos, ossos e saúde mental de muita gente; esse desalinhamento confuso entre coisas ditas e coisas agidas e essa passividade no aprofundamento das discussões reais de problemas humanos num puta espaço possível de fazer isso aí. Eu fico pensando que não é possível que não entendemos ainda que por meio do pedagógico, cada povo a sua maneira, é que muita coisa é construída e debatida e vivida. 

Hoje em algum momento eu escutei colegas reclamando que em determinada outra escola, todo mundo parava em greves e paralisações, que todo mundo adere ao coletivo, que as pessoas se mobilizam - e aqui não. Ai eu pensei não é possível cara, será que a gente tá na mesma escola? Porque eu lembro de uma certa quantidade de vezes que ninguém quis parar, ESSE ANO, e ai eu pensei em perguntar: mas escuta você não tinha se recusado da última vez? Sendo que tinha gente que ia - tipo eu? - e que se cada um dissesse eu paro então todo mundo teria parado porque afinal de contas cada um é todo mundo? Ué. Que falta de capacidade matemática é essa? Ou, então, quando a gente tá falando com os camaradas homens professores que tem alguma coisa funcionando mal dentro de algumas salas, com alguns homens, que por algum motivo tendem a ser mais agressivos e violentos com mulheres? Eu de repente me vejo sendo questionada da sanidade intelectual de algo que eu estou expondo como se eu fosse mesmo burra de sair falando qualquer merda sobre algo como se eu não soubesse o que eu estou falando? É de uma absurdez sem tamanho - quando eu digo que essa condição faz você precisar falar sempre duas vezes mais a mesma coisa, mais enfaticamente, provar mais. Ou falar mais alto. 

Ou eu posso dizer também que a forma como eu lido e vou lidar com um conflito ou desacerto em sala de aula nesse contexto não vai poder ser como você lida, porque nós não somos a mesma coisa, a mesma pessoa e exatamente porque os alunos e alunas não nos veem e não nos tratam da mesma forma? Eu precisei explicar um monte de vezes como que pra manter minha sanidade mental e integridade física MUITAS vezes eu vou precisar usar como um dos primeiros recursos me retirar da sala de aula e, portanto, perder a moral? Diferente, claro, de usar o recurso de sair da sala de aula como último recurso - porque a lógica dominadora é tamanha que sair é arregar e arregar é perder o poder . E, por que raios tem que ser essa lógica de disputar um poder - que além de poder é estritamente uma forma de dominação, opressão, colocar naquele lugar menor aquilo que eu julgo por algum motivo ser menor (no Ser). 

(E eu preciso lembrar aqui, porque a verborragia levou um tempo pra terminar, que eu estou falando dos casos mais tensos, mais violentos ou mais agressivos que não são os mais cotidianos. Em geral, apesar de lidarmos cotidianamente com a violência: na ação, na comunicação, nos gestos. em grande quantidade das vezes nós, e aqui quero relembrar a capacidade criativa e sensitiva de professoras mulheres que é muito absurda e infinita, professoras, conseguimos muito mais construir, contornar, fazer parar pra pensar, enfrentar e, sim, ganhar confiança e respeito e reciprocidade. Mas tem esses casos, esses casos que começam aqui e ali meio bestas, como qualquer outro, mas que demonstram de algumas maneiras que serão casos que se não bem refletidos se arrastarão - e não a toa, se arrastam - de forma a contaminar todo o entorno, e o nosso ser, e nossa vontade de fazer alguma coisa).

E ai a gente se vê naquele limbo onde tudo é muito difícil, muito complexo e muito delicado pra se tratar. Ou então tentando explicar a mesma coisa para pessoas que parecem muitas vezes não ter a capacidade de escutar o que você está falando. Aquelas pessoas que SEMPRE vão saber dizer para você o que e como você deve fazer, porque dentro do brilhantismo delas é assim que ELAS resolvem. Ou ainda pessoas tão íntegras no seu ser que se sentem confortáveis e te cobrar uma atitude SUA como se o problema fosse VOCÊ, e você pacientemente diz: 1. Eu posso tentar outros métodos e metodologias em sala de aula (estou aqui pra aprender afinal de contas), mas 2. você precisa entender que não se trata SÓ disso. Como essas pessoas são com você na sala? Como é o trato com você, a relação, o respeito, a disciplina? e 3. pergunto isso porque você pode me ajudar a pensar na resolução, mas poderia considerar escutar que eu percebo, sinto, entendo que existe esse outro fator que causa esse e esse problema, você pode me escutar também sobre isso? e ainda 4. Como você pode ajudar a pensar sobre o machismo? E como você pode ajudar e ser aliado, portanto, a desconstruir esse machismo nos seus pares, nesse caso, homens? pra terminar, 6. Agora eu acho que nós podemos escutar, porque você saberá que não há nada que você diga que vá mudar o fato de que existe um problema cultural e ideológico aqui, e que só falando sobre isso e pensando sobre isso é que talvez a gente consiga transformá-lo de problema em solução.

Eu tenho um quebra cabeça, eu consigo montá-lo. Eu apresento argumentos, eu exponho teorias e eu faço com desenhos de exemplos concretos do nosso cotidiano. É uma tese muito possível de ser construída - e as vezes os pares de profissão podem ajudar e as vezes, veja só, podem atrapalhar. Quando optam por apenas ser homens, isto é, reivindicar uma roupagem que os posiciona num lugar concreto, específico e nos empurram também para aquilo que eles consideram que não são: mulheres - que é um não-ser; E então, vejam, perde-se a alteridade até entre pares. Fala-se alto, ganha-se no grito, no argumento geracional, na desqualificação do que você fala, etc. etc. etc. Acho que tem ainda mais um tipo dessa manifestação da desigualdade que é quando você é perguntada, por um homem parceiro, parça, companheiro, camarada e você fala e conta e expressa o que está sentindo e de repente você percebe que talvez não importe muito, que ali também não tem escuta. E, tudo bem, você sabe que às vezes não é proposital, não é raiva, não é falta de amor - é mais a falta da sensibilidade mesmo. aquela de criação, de aprendizado, a habilidade de ver o outro, de estar capacitado para receber, para se expor de alguma forma (e construir empatia).

Eu sei que há muitos tipos do machismo se manifestar, em pessoas muito diferentes entre si. Sei que precisamos estar disposta a ensinar, a desconstruir em nós, nos outros. Estar dispostos a se colocar à prova, a entender-se errado, limitado, a descobrir-se capaz de transformar isso, de repensar, de replanejar, de re-agir, de revoltar-se com propriedade das coisas, da vida, das possibilidades do amor. Sabe? E quanto mais raiva você sente dessa situação toda, ao mesmo tempo você procura se alimentar de todas as coisas que nutrem a esperança, que não abaixem a fortaleza do otimismo da vontade e... Seguimos. 

Não à toa, esse tipo de confronto emocional é o que mais nos suga, o que mais desestabiliza, porque cansa. Cansa explicar, cansa sentir, cansa refletir sobre isso - porque nos empurra prum lugar incômodo da reflexão e até ai tudo bem, faz parte, mas duma reflexão que vem dentro duma espiral muito doida de não conseguir se fazer escutar. Eu me sinto nesse contexto meio incapaz de me expressar, e fico pensando se tentei falar de todas as formas, se talvez o problema seja eu, se eu estou ficando louca de alguma maneira. E entro nesse espinhoso terreno em que duvidamos de muitas coisas, para sentirmos depois que não fazia sentido duvidar de nós mesmas, porque estamos certas. Algumas pessoas confirmam mais silenciosamente. Confirmam menos espalhafatosamente, sem comprar tanta briga, sem deixar o coração escapar pela boca, o ódio e a revolta falar mais alto, a indignação tomar conta. Fazem até mais serenamente... E você sabe o que você tá falando. É só isso.
A gente prova as coisas pra quem está disposto a escutar. Quem está disposto a não de pronto responder, a maquinar a coisa na cabeça, a deixar as palavras fazerem um sentido, mostrarem o sentido daquele que as comunicou. O que ela quer dizer com isso? O que eu consigo entender disso? Que eu penso sobre isso? O que eu não entendo nisso? Deixar que alguém te conte o que ela quer, o que a faz pensar e sentir assim, o que a faz falar isso? Eu penso que qualquer discurso que questione algum tipo de estrutura engessada de poder, de hierarquia, de comodismo, de adaptação precisa ser bem escutado. Não precisa ser repercutido. Não precisa necessariamente ser respondido de imediato, ser solucionado. Não estamos falando do imediatismo das respostas de tudo. Do falar exclusivamente porque se quer algo em troca. As palavras precisam ser percebidas, compreendidas. Elas precisam de respeito a elas e a quem as utiliza para comunicar algo. 

A verborragia me permitiu ir até aqui hoje. 

Postagens mais visitadas deste blog

"Fica bem", "Se cuida" e "tenha uma boa vida" e o significa real do "não se envolver".

Sociologia do amor: a quase-simetria possível na sinceridade

Carta de repúdio às canções da atlética da medicina da PUCCAMP.