do movimento do mundo #2


Como olhar as pessoas passarem, falarem e não acompanhar precisamente o que elas estão fazendo realmente, uma câmera rápida. E é assim, normalmente, as pessoas passam por nós sempre muito rápido, o tempo todo. Em um dia de dia-a-dia passam várias sem que a gente preste atenção o suficiente pra memorizar um só rosto, uma só característica de alguém. Passam também por nossas vidas e nos conquistam, nos decepcionam, nos entregam, nos protegem e devoram nossos corações a todo tempo, famintas enquanto, também famintos, devoramos os delas, buscando conhecer cada pequena fração, extrair toda a essência humana, nos sufocando. Repartimos, dividimos. Transformamos em algo nosso, buscamos nos encontrar nelas, buscamos, desesperados, por semelhanças. Boas e ruins. Tentamos nos tornar cada vez mais humanos, mais cheios de amor, plenos. Procuramos tanto que perdemos o controle de nós mesmos e nos perdemos em algumas pessoas em especial, nos perdemos e encontramos também coisas ruins, machucamos. Somos machucados, o tempo todo. Desejamos pessoas melhores, amores melhores, amigos melhores. Desejamos que nos amem, porque amamos demais. Mas e eles? Não teriam amado, eles, também demais? Não teríamos também machucado várias pessoas em nosso caminho?
Deixamos de notar tantas pequenas coisas, tão mínimos detalhes e o que nos sobra? Não sabemos o que fazer, saturados de sentimentos alheios e dos nossos próprios, que nos arranham a garganta e que precisam sair a qualquer momento, mas que a voz nos abandona, falta coragem. Nos falta coragem o tempo todo, pra escolher, pra falar, pra demonstrar. Toda hora.

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