Das liberdades da gente

E sim, eu estou aqui, parada e presa, e sem liberdade, porque me coloco nessa situação. E quantas vezes não fazemos isso a nós mesmos, nos prendendo à pessoas que nem sempre nos querem. Nos privando de todo e qualquer tipo de liberdade de ser, de ter, de querer. Nos movimentando de acordo com os passos do outro e esperando respostas por isso, fazendo com que nossas ações saiam de acordo com o que se tem do outro, construindo situações para estar "ali" na hora certa.
Não basta "deixar o outro ir", porque não se trata disso. O outro não está querendo ficar, na verdade ele nunca esteve, de fato, aqui. Se trata de permitir a si mesmo ir embora, colocar uma pedra em cima e se "libertar" - porque afinal de contas se se está preso é porque assim se quis. E isso dói muito. A percepção do que se é possível fazermos a nós mesmos, principalmente quando percebemos num "estágio avançado" que há alguma coisa errada, desconexa, você não é mais você, simplesmente, você é uma pessoa presa, dependente. Todos os seus sentimentos começam a se movimentar de acordo com isso, a mistura de emoções é gigante, as outras pessoas começam a arrancar desconfiança, sentimentos ruins começam a crescer e você sente medo. Sente medo porque estar preso a alguém é ter medo de se estar sozinho.
Perceber tudo isso é ruim, desconfortável. Nós caminhamos como se sempre soubéssemos o que estamos fazendo e, quando de repente, descobrimos que não estamos agindo por nós mesmos, beiramos um estágio de desconforto e náusea que toca o vazio... Sim, ficamos "vazio". Ficamos "vácuo". Ficamos incrédulos.
O medo de se estar sozinha sempre foi um dos meus maiores medos. Há essa necessidade engraçada de se precisar "prender-se" a alguém(ns) de tal forma... Essa necessidade de transformar sinais do cotidiano em grandes coisas. Essa coisa assim de criar ligações com as pessoas...
Liberdade não deveria ser medo. E eu sei que não é. Deveria ser amor, alegria e cores. A liberdade é frio na barriga o tempo todo. É tempo, é todo o tempo. É sobre estar bem consigo mesmo, é amar todos, e isso inclui, porque não, amar a si próprio. Ter amor próprio é fundamental para quem é verdadeiramente livre. A liberdade é poder fazer suas escolhas e traçar seus caminhos. É agir e reagir de acordo consigo mesmo. É disso que se trata. Ser livre e não estar preso a alguém. Isso é essencial.
Estive, por tanto tempo, mergulhada numa prisão tão profunda em pessoas mais profundas ainda. Estive porque quis, verdade, mas estive sufocada. Estar perdida nesse abismo que é o ser humano, perdida no meu abismo e no abismo do outro, amando, sentindo, odiando, sentindo, desesperada...
Quando a gente acorda disso é uma sensação tão estranha. Não acreditamos que podemos ficar adormecidos por tanto tempo. A verdade é que a gente se acostuma. Se acostuma a agir para os outros, a pensar nos outros o tempo inteiro. Se acostuma com as desculpas que contamos para os outros e para nós mesmos, que justificam nossa prisão, auto-prisão. E se acostumar é ruim, nesse caso, porque se acostumar também significa não ter liberdade. E eu estava acostumada, estava acostumada a agir assim, porque tinha a impressão de que fazia certo. E porque achava que aquilo não era ausência de liberdade. Sempre pensei na possibilidade de ser um "tiquin" de amor e medo - mas não aquele meu medo de ficar sozinha - medo de ser feliz.
Não era. Aquilo era só abismo. Neruda estava mais do que certo, imagino que ele tenha pensado em você quando escreveu...
"Èse fue mi destino y en él viajó mi anhelo,
Y en él cayó mi anhelo, todo en ti fue naufragio!".