(literatura de desabafo)

Vim buscar uma forma de desabar pela escrita. Isso sempre funcionou, até hoje. Até que eu não consegui escrever, e ficou saindo um monte de baboseira. Eu apagava. Saia de novo, eu apagava. Quando uma coisa quebra uma vez ela nunca mais volta a ser mesma... Acontece o tempo todo, liquidificadores, maquinas de lavar, corações, almas... Todo esse tempo estive estilhaçada sem querer perceber. Dei cinquenta mil voltas com fita adesiva, achando que depois de um tempo isso entraria em mim e tudo ficaria bem. Normalmente o caminho mais fácil é negar. Negar o quão profundo alguém te machucou – e achar que aceitar um pedido de desculpas é suficiente pra te curar. A verdade é que a única coisa que eu consigo pensar é quão fracassada eu sou. Quanta dor toda essa situação me causou. E quanto ainda tem corrido dentro de mim, como um veneno que insiste em não querer sair, cristalizado no coração, na mente... perturbando. Meu único momento de calmaria é quando estou dormindo. É quando posso ter um descanso dos fantasmas reais e medo dos fantasmas de mentira. Se meu maior fantasma sou eu, qual a melhor solução? Como me livrar de mim mesma? Como fazer parar? Como desacelerar a queda quando se percebe que está caindo. E parece que não tem fim, não tem nunca fim. Como agarrar a corda que insistem em te lançar, sem machucar as mãos? As mãos ou o coração? Devo estar falando bobagem. Acho que de tudo que ficou só não ficou o coração. A amargura é um estágio deplorável que um ser humano pode chegar. Eu me sinto amarga. Me sinto angustiada. Me sinto nada. “a lack of nothing”. Luz, faz presente sua cor que é pra eu ver o caminho certo. É mesmo, ninguém disse que seria fácil trilhar um caminho tão tortuoso e cheio de pedras. A única esperança é não perder a esperança, e só. Queria conseguir me deter no que sou só eu, onde eu estou me metendo... Entender essas coisas que tão acontecendo aqui dentro, essa solidão que vai abrindo um buraco cada vez maior aonde antes era eu.... Aonde antes tinha espaço pra todos aqueles por quem eu sentia amor e que, um a um, vão e afastando de mim, vão ficando cada vez mais difícil de serem alcançados.... Vão se decepcionando cada vez mais, sem exatamente eu entender porque... Aqueles com quem um dia me sentia a vontade e hoje não quero decepcionar de jeito nenhum... A eles, amigos, acho que foi o bastante. Queria dizer que sinto muito, que eu não pude me ajudar. Que eu não consigo sentir mais nada. Que eu não tenho mais vontades. Que a única perspectiva pros próximos anos é a tranquilidade e paz do sono profundo – que é a única saída que eu encontro. Que eu jamais serei boa como vocês imaginam, criando em torno de mim um monte de coisas irreais, tecendo em mim seus elogios, como se eu fosse boa o suficiente para recebe-los. E eu jamais serei. Jamais serei essa pessoa. Jamais serei qualquer pessoa digna de atenção porque essas pessoas não são medíocres. Eu sou fraca, tenho medo. E além disso eu estou despedaçada – como nunca estive antes. E cada pedaço fere, me fere a mim mesma. Me destrói todas as vezes que eu penso e me comparo, porque é inevitável, vocês precisam entender, e isso dói demais, dói demais. Dói porque eu me sinto tão vulnerável e estúpida e, ao mesmo tempo, meu corpo é uma única contradição, gigante, mas única. Embaralhado, buscando se ajeitar enquanto busca lutar contra o se ajeitar. Desesperado. Com a mente atordoada. Com a capacidade de escrever cada vez menor, cada vez mais difícil de expressar, até que... Até que as palavras não sejam mais suficientes – ou necessárias. E, talvez, a paz esteja reestabelecida. Não importa como.

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