de desistir.


Você tem uma caixa. Uma caixa tamanho médio, resistente. Uma caixa que serve para colocar todos aqueles probleminhas, aquelas indigestões, aqueles contratempos... Um, por um. No começo, organizados. Com o tempo eles vão se ajeitando sozinhos lá dentro. E eles se solidificam, com o tempo. Porque, com o tempo, todo mundo sempre diz - é o melhor conselho - com o tempo as coisas passam. As dores, as perdas, os amores e nós, mas o essencial, esses incômodos(zinhos) passam. Mas se solidificam, porque incomodos(zinhos) se tem essa mania de não ir atrás de resolvê-los, mas guardá-los na caixa. E, como se solidificam, ocupam espaço permanentemente na caixa e, com o o tempo, também, surgem novos problemas para se colocar na caixa e, um a um, se juntam, se amontoam. E você percebe que a caixa está cheia, entupida - prestes a transbordar. E você tenta inutilmente fechá-la, senta em cima, passa fita, empacota... Mas ela pode explodir. E você resolve pegar, esses problemas, olhar pra eles e resolvê-los, para não ter que guardar na caixa. Mas, um por um, se juntam ... e crescem. E se transformam em uma coisa só. Um dano só, mas um dano tão fundo - pro-fundo. Um dano só acumulado, de pequenos danos que a gente não vê - ou não quer. 
Você já sentiu que, num momento de fragilidade muito grande, uma mosca ao passar por você voando poderia te derrubar?? Um comentário, uma fofoca, uma conversa, uma coca-cola derrubada acidentalmente no pé... seriam suficiente para um dano acumulado explodir na sua mão? Como uma bomba-relógio, cujo manuseio será decisivo para evitar - ou desencadear - a explosão.

Sabe, não sei definir a vida ainda. Hoje ouvi que com 20 anos é muito cedo para pensar em desistir. É, eu tive que confessar que, pra melhor ou pra pior, eu estava desistindo, e saí de la fazendo uma promessa na qual nem eu acreditava mais: "não vou.".Também ouvi que  "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".  E, uma das que eu mais gosto é a de um homem de 100 e poucos anos que diz que a vida é um sopro. Certos ou não, eu poderia acreditar, por tudo o minimo que eu conheço de 20 anos de vida e da vida dos outros, que na maior parte do tempo ela também é uma bosta. Não estamos felizes, temos problemas, sentimos dor, perdemos alguém, lidamos com todas as mazelas do mundo nos soprando nos ouvidos o tempo todo - e sobreviver é a única coisa que nos resta - talvez da melhor maneira possível, talvez fazendo alguma coisa, talvez lutando desesperadamente para que ela não passe assim - buscando algum tipo de propósito - mas sobrevivendo. As vezes, nos lembrar que temos que sobreviver é o único combustível possível para nos manter sobrevivendo.a

Uma vez li um texto onde o autor concluia que uma só vida é impossível, é impossível realizar alguma coisa com uma só vida... E ele encontrou uma resposta perfeita para a dor que é viver: o paradoxo terrível no qual estamos enterrados onde a vida ser uma só, um sopro, um encontro de desencontros, uma dor e uma bosta é, exatamente, porque ela é tão curta.


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