sobre tanta dor


A gente pensa que é sempre fácil, sentimos dor. Até decidirmos não sentir mais. Conheço, de conhecer, poucas pessoas, mas o suficiente para entender que a maneira como cada um lida com a sua dor é, em certos aspectos, única. 
Sempre fui um elo fraco. Um componente exausto. Uma desistidora em potencial. Não sei lidar com a dor, e quando penso nisso até bate aquele desespero de perceber que existem dores muito, muito, muito maiores que eu poderia ter que enfrentar... E que não saberia como. Então, eu resolvi tentar, e decidi que, dali pra frente, aquele tanto de dorzinhas acumuladas ficariam para trás. E que eu estava curada, o tempo seria decisivo, eu entendia, mas eu tinha o suposto controle sobre mim e isso significa que eu era responsável por sofrer com aquela dor.
Infelizmente (ou felizmente) a gente descobre que não existe valvulinha. A realidade muitas vezes faz papel principal nessa decisão. Com os pés pra fora de casa e com a cara de volta pro mundo, a gente percebe que aquilo que causou dor causou também um dano. Que todo mundo é danificado. Que isso não quer dizer que não existam aqueles que já superaram isso, mas sim que não será possível superar a dor ignorando ela e  fingindo que ela já passou. Quando ela não passou. E quando a gente percebe que pode ser que ela não passe tão rápido. 
Aquele medo, aquele medo de achar que ela começa a fazer parte da gente, roubar um pedacinho de espaço pra poder se acomodar, viver sempre ali, sendo freio da gente, sendo obstáculo.... Aquele medo tem, sempre tem. É dificil a gente aceitar a idéia de que o tempo vai curar, porque como funciona isso? Como funciona o tempo pra curar? Se ela está ali, encaixada e sendo parte de você. Sei lá, a dor, os danos, o que fica de tudo isso, o tempo. A fuga. A constante fuga em aceitar que se está machucado, porque se está, e é preciso entender isso. Essa é a maior dor, porque quando a gente aceita o dano fica um vazio em não saber como repará-lo... E esse vazio dói. 

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