sobre amores eventuais e mentirinhas chatas
Todas as minhas reflexões partem sempre de experiências concretas
minhas, principalmente no que tange às desventuras do amor. Por isso, eu falo
sempre de um lugar bastante específico: eu. Acho que pra mim isso serve para
aliviar um pouco as eventuais dores e decepções que eu sofro, além de ser
uma possibilidade de tentar entender esse mundo tão, tão, tão complexo...
Eu tenho um relacionamento aberto e eu continuo achando que essa é uma das
melhores formas de se relacionar amorosamente – apesar dos IMENSOS apesares: um
relacionamento aberto envolve um milhão de problemas tanto com meu companheiro
quanto com os eventuais parceiros que eu possa vir a ter. Como eu sou uma
pessoa bastante tímida confesso que aplicativos como o “tinder” me ajudam a
driblar os problemas da paquera/chaveco e muitas vezes me ajudam a chegar nos
finalmentes com uma pessoa – fora que eu realmente acredito no potencial dele
(em gerar encontros, aproximar pessoas e etc). Não que eu me restrinja só a
ele, claro, mas confesso que nos últimos tempos tem sido o melhor mecanismo que
eu encontrei para lidar com a vontade de conhecer pessoas novas.
Bom, mas isso não é sobre o tinder. Isso é, mais uma vez, sobre o
problema dos homens machistas da nossa sociedade. É mais uma vez um problema
sobre como as pessoas se relacionam – e como as pessoas escolhem se relacionar.
E eu sei que não é possível cobrar facilidade na hora de se relacionar com
alguém – e eu não to falando aqui de construir relações amorosas/afetivas como
casar ou namorar. Pra mim uma relação é qualquer envolvimento entre duas (ou
mais) pessoas que trocam ideia, conversam, saem juntas, comem juntas, transam,
dormem, se beijam... Enfim, tudo isso são formas de se relacionar. E para todas
essas formas de se relacionar nós escolhemos falar coisas, nós criamos
sentimentos (e junto com isso expectativas e/ou frustrações) nós nos
impressionamos com as pessoas, nos apegamos, desgostamos... Bom, esse é o lado
bonito e o lado ruim de se construir relações amorosas/afeitas com outros
indivíduos. É a própria contradição da relação. O outro lado ruim é que
não importa quão “independente” ou “moderna” eu seja, enquanto mulher as minhas
relações que eu construo com os homens com quem me envolvo são, o tempo todo,
permeadas pela desigualdade de gênero. Assim, não importa quão libertária eu
seja – e quanto o cara entenda isso (porque essa pode ser uma variável
importante no modo como se constrói a relação) – eu me sinto 99% das vezes em
uma situação de desigualdade com o parceiro do momento.
Bem. Eu penso essa reflexão a partir de dois elementos: um sou eu,
subjetivamente falando. O outro é a droga da desigualdade de gênero, uma baita
pedra no caminho. Primeiro, eu sou carente. Eu me ligo afetivamente de forma
profunda às pessoas – eu meio que crio algumas dependências emocionais, as
vezes. Mas não é só isso o problema "por si". Eu também me apego
fácil. Se eu me divirto, se eu tenho momentos prazerosos com alguém, eu me apego.
Quando eu gosto de alguém, eu gosto bastante – eu me entrego. Eu costumo
brincar que em se tratando de relacionamentos afetivos sempre que aparece uma
porta dizendo “não entre aqui você sabe que não pode” eu entro e entro de
peixinho. Pois é. Eu confio bastante nas pessoas, acredito nas reciprocidades,
em sinais... Eu sou bastante ingênua quando se trata de amor. Um verdadeiro
coração de bisnaguinha, molenga.
Ok. Isso é importante - reconhecer e refletir e desconstruir. Mas, de
novo, não é esse o problema. Eu queria falar sobre sinceridade, ou a falta de.
E mais uma vez, porque eu sinto infelizmente que isso é tão recorrente – e
sinto que a falta de sinceridade está tão atrelada ao problema do machismo
quando diz respeito às relações afetivas que chega a ser idiota pensar ...
Meu ponto é: quando eu fico com alguém, quando tenho um período
agradável e a possibilidade de reencontrar a pessoa, eu falo pra ela, se eu
quero apenas vê-la ou se eu quero ficar com ela ou transar... Eu não escondo
esse tipo de coisa – porque a gente nunca sabe o dia de amanhã, né. Então eu
digo: gostei de você, quero te encontrar de novo. E bom, foi exatamente isso
que eu fiz. E claro que eu sei avaliar uma pessoa, tentar sentir o que ela tá
pensando e etc. e assumo o risco de que quando eu falo esse tipo de coisa eu
posso ouvir algo tipo: “ah, eu não curti muito então estou de boa” ou “eu
também gostei de conhecer você, mas eu não quero mais nada” e similares. Bom,
esse tipo de resposta realmente feriria o orgulho (ou amor próprio) de qualquer
pessoa – mas seriam respostas que, ao condizerem com o que a pessoa está
sentindo representariam uma sinceridade indispensável para a vida continuar
seguindo. Porque olha, ela segue.
Então, bem. Isso aconteceu. E eu disse “quero te ver de novo” e a pessoa
disse “vamos nos ver”. E ai permaneceu me enrolando por quase 3 dias. E ai eu
dizia “e ai, vamos sair amanhã?” e ele respondia “claro!” e passava o dia
puxando assunto comigo. E ai no dia seguinte “e ai, vamos onde?” “ah, eu to
meio enrolado, vamos deixar para amanha?” “ok, claro” “certo, que horas você
pode?” e eu respondo e a pessoa responde qualquer coisa – e ai chega o dia
seguinte mais uma vez e a pessoa “ah então, lembrei de um compromisso não sei
aonde, tem tal e tal problema...”. Bem, ok. Apenas pare.
Sabe. Eu fico pensando que em tempos de contos de fadas e amores
românticos hollywoodianos os homens acabam se contaminando por uma ideia de
mulher que é impensável. Ué, eu não me lembro de ter pedido ninguém em
casamento. Não me lembro de ter dito em nenhum momento que estava condicionando
minha vida ao cara, que dependia dele. Eu não me lembro também de ter dito que
queria passar o resto da vida juntos ou que tinha me apaixonado por ele. Eu
disse “gostei de você, você gostou de mim? Vamos aproveitar esse tempo juntos”.
Afinal de contas eu gosto de aproveitar coisas boas o máximo possível. Será que
isso seria também um problema?
E eu sei. Condições adversativas existem, mas não tantas. E a gente
saca, sendo mina e convivendo com isso regularmente, no fundo no fundo a gente
saca quando a pessoa tá enrolando a gente – o problema é que eu sou ingênua,
mas as respostas e o papo cheiravam enrolação desde sempre, era eu que não
queria ver. E bom, eu não me importei porque preferi ACREDITAR nas palavras que
ele me falou. Eu criei expectativas de que a gente poderia se ver de novo – é
logico que criei. Seria idiotice negar. Não posso ser hipócrita e falar: 0
sentimentos. Não sou assim.
Mas meu ponto é: precisa mentir? Precisa SEMPRE ter a síndrome do pinto
de ouro? Quer dizer, pra que né? Dentro de qual perspectiva é legal ter uma
mina massageando seu ego desse jeito, de forma submissa? Isso pra mim é
impensável. Toda vez que um cara fica se colocando abaixo de mim eu acho uó –
não é possível que a maioria dos homens curtam que a gente faça isso: vá atrás,
mande mensagem, converse, se mostre disponível e mais do que isso se mostre
afim da pessoa – pra ela simplesmente ficar te cozinhando e dizer, no ultimo
momento: olha, não vai rolar. Porque eu reconheço, e acho isso super
problemático, que eu fui submissa ao cara. Esse é um dos efeitos reversos - com
certeza!
Sabe, é criar expectativas e submeter as pessoas à uma frustração
demasiadamente desnecessária. Não tem cabimento. Todo mundo sabe que a
frustração é uma das piores coisas que podemos sentir: ela nos faz questionar
nossa personalidade, nossa companhia, nosso corpo, nosso sexo, nosso
envolvimento – me fez questionar se eu viajei quando pensei que a pessoa curtiu
minha companhia, me fez questionar se eu sou uma boa pessoa para se envolver –
enfim, me deixou super bodiada e irritada. Tudo isso simplesmente porque os
caras não sabem – ou não querem(!) – assumir que não estão mais afim de ver a
pessoa. Porque assim, eu sou da opinião que se você quer mesmo você vai lá e da
um jeito – sério.
Então. Se esse cara não queria me encontrar de novo porque ele
simplesmente não falou desde o inicio? Porque permanecer puxando assuntos
aleatórios, dando sinais de existência, sabe? Por que criar expectativas na
mina? Pra que cozinhar alguém? Acho que é esse o ponto. E o problema é que
numa relação como essa que eu construí o ser cozinhada não é
simplesmente o ser enrolada e foda-se – porque no limite eu sei que é foda-se,
que eu não vou mais vê-lo, que a gente vai viver a partir de agora vidas
completamente sem relações nenhuma. Mas assim, precisava disso? E o que fica na
nossa cabeça, e todos os questionamentos? Entende? Isso interfere muito na auto
estima - principalmente se estamos lidando diretamente com o machismo.
A impressão que eu tenho é que com o ego machista do tamanho do mundo
por vezes se boicotam relações ou possíveis relações que poderiam ser muito
interessantes. Bom, isso partindo do pressuposto de que ele me falou verdades
sobre mim. Eu não falo mentiras. Eu não minto pra pessoa dizendo que gostei
dela, dizendo que quero ver ela de novo, elogiando. Eu não fico puxando assunto
com quem eu não tenho interesse (de qualquer tipo) – eu não minto. Eu não crio
expectativas. É simples. E por mais que seja uma bosta as vezes você escutar um
não ou levar um fora ou ouvir que pra você foi melhor do que pra pessoa –
porque nem sempre as relações trazem sentimentos iguais, bônus iguais – é bem
melhor você já ouvir isso de primeira e desencanar – seguir sua vida. Entende?
E isso me faz pensar, inevitavelmente, que se não fosse uma relação
machista e desigual não existiria esse tipo de problema: eu não ficaria
insegura e triste, não me sentiria rejeitada ou usada ou algo assim. Porque,
enfim, esse tipo de atitude é tão bosta que faz a gente se sentir culpada
inclusive por insistir em ter um relacionamento aberto e conhecer pessoas. Mesmo que as vezes eu queira só fazer sexo ou só
dar uns pegas (e, pasmemos todos, as minas VÁRIAS vezes querem só fazer sexo e
dar uns pegas) eu acho que é possível de se fazer isso numa relação de respeito
e sinceridade....
Ou será que eu to viajando?