Sobre corações partidos


Términos são um saco. Finais de relacionamentos são como minis ataques cardíacos que sofremos durante toda nossa vida. Não importa muito a idade que temos, se apaixonar e sentir as dores de um término serão sempre intensos, enlouquecedores e dolorosos. Aliás, não importa também como termine, embora talvez as intensidades variem, a verdade é que mesmo quando você não gosta mais da pessoa - aquele espaço, aquele vazio temporário que fica com a ausência dela pode ser absolutamente doído...

Então, em algum ponto de uma paixão e por algum motivo que eu desconheço, apesar de ter tentado pensar sobre isso inúmeras vezes, eu simplesmente deixei de gostar dele. Tão rápido como o sentimento surgiu ele simplesmente desapareceu. Parecia, inclusive, que o oposto começava a se desenhar, cheio de impaciência, desgosto e indiferença. Ao contrário do que sempre dependo em palavras, não consegui ser sincera sobre isso - mas atos transparecem e ele percebeu. Quando finalmente nos encontramos ele foi mais sincero e corajoso e decretou o fim: não era por ele, era por causa de mim - por causa da minha inconstância, por eu não saber o que eu queria, por eu ter vacilado e "machucado" ele, porque a gente não ia poder dar certo mesmo. E eu concordei, com tudo. Fazia sentido, eu estava perdida (estou) e não sei o que eu quero e eu esfriei. Eu deixei de sentir alguma coisa que era necessária. Então aquilo era certo. E não doeu, até três dias depois.

De repente meu coração caiu numa percepção gigantesca do vazio que aquele término me causava. Eu comecei a sentir falta, não conseguia parar de pensar nele e meu estômago doía. De repente eu queria escrever coisas do tipo "acho que deveríamos tentar de novo" - e escrevi. E não serviu pra nada, a não ser para aumentar aquela sensaçãozinha de rejeição que começava a crescer dentro do peito, substituindo o vazio e me fazendo sentir mergulhada num mar de solidão... Não fazia sentido. Eu não gostava dele. Eu tinha terminado "antes". Eu abandonei o barco. Então por que de repente eu estava me fazendo perguntas sobre ele e onde ele estaria e pensando em momentos e pensando em lembranças...?

É o fim que incomoda. É essa idéia de que você nunca mais vai ver aquela pessoa. É a o experimentar uma sensação de incompletude, de impossibilidade de vislumbrar um horizonte, qualquer que fosse ele, com aquela pessoa - o que significa que aquela pessoa não era a sua pessoa (se você acredita em alma gêmea, claro) mas apenas uma pessoa que sairia da sua vida . É o saber que um sentimento que era tão intenso em relação a alguém em um tempo, depois que o processo todo passar vai se tornar absolutamente nada como se nem nunca tivesse existido ou vai se tornar um pequeno espinho no peito que as vezes, dependendo de como você se mexe, dói. É pensar no sexo, que tinha seus bons momentos, e pensar que não terá mais - ou no beijo, num jeito de beijar específico ... Eu acho que é o não ser que incomoda tanto - o não ter alguém ali em algum momento que você queria ter e saber que não adianta chamar pela pessoa porque não existe mais essa possibilidade - ou mesmo essa intimidade.

É a intimidade que morre de repente e as coisas ficam estranhas e não é mais possível falar conversar rir e ai quando você encontra a pessoa é tão estranho que não é mais possível olhar porque fica aquela coisa esquisita, aquele sentimento estranho e ao mesmo tempo alguma coisa parece ir na direção errada e você sente que aquela pessoa não te da mais absolutamente nenhum valor e que você não importa em nada pra ela ... E ai você se questiona até que ponto foi um rolê verdadeiro ou não, até que ponto ele realmente gostou de você e te respeitou ou se isso nunca foi verdade e nunca houve respeito, amor ou carinho... e até que ponto gostar é completamente real ou simplesmente uma grande mentira que vivemos repetidas vezes porque estamos, na verdade, em busca de uma coisa muito mais profunda da nossa própria alma, e ai de repente tudo fica mais vazio e mais sem sentido.

É o fim que é um saco. O fim da linha do pensamento, o fim da ideia, o fim do "podemos fazer isso amanhã" ou "vamos no observatório um dia". É o fim, um pedacinho seu que vai - e dependendo da intensidade pode ser um pedaço, um pedação... É estranho, um caldeirão gigantesco de sentimentos de vários jeitos, a pontada de tristeza, as vezes uma vontadezinha de chorar uma falha de memória que carrega pro passado na forma de um desejo intenso de que ele se repita no presente - Ou uma dor tão profunda, um sentimento de impotencialidade, que as vezes o peito dói tanto que você não consegue respirar e a principal dúvida que ecoa na sua cabeça é quando essa dor impossível vai passar pra que você consiga ficar de pé novamente. É a humilhação e tristeza em erguer o queixo por si própria e olhar pra frente sem pensar em recolher cacos do chão, procurando se transformar numa pessoa diferente e renascer a si próprio apesar da pessoa...

Você sabe, eu não vou mentir. Me está doendo um bocado e se eu tivesse a oportunidade eu desejaria mais algum dia com você. Eu penso que meu coração é uma coisa muito frágil mesmo, é como se eu pudesse abrigar mil e um sentimentos dentro dele em relação a mesma pessoa - e é estranho e confuso e eu estou bastante triste. Eu sinto vontade de chorar as vezes e ai eu percebo que é também porque eu me sinto bem sozinha - e porque mais uma pessoa que eu poderia chamar ou poderia poder quem sabe, chamar, mais uma pessoa dessas deixa de ser uma pessoa dessas. E é frustrante porque eu me dediquei bastante a isso e foi desgastante, porque na maioria das vezes eu consigo transformar um amor em algo desgastante que vulnerabiliza e eu me questiono. E ao mesmo tempo eu sinto falta. E o vazio que fica é sempre uma lembrança de alguma coisa que não é. Não mais.

E nós só precisamos aprender a passar por isso. Ou esperar que isso passe.

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