
Querida Carlota,
Hoje te escrevo em meio àquela típica ressaca da qual costumávamos compartilhar. Minha cabeça dói, mas seria mentira dizer que exagerei apenas na bebida.
Você sabe, você me conhece bem, que ao te escrever procuro sempre desesperadamente por um aconchego. Hoje a única pessoa com quem eu queria falar, é você.
Tenho um desabafo a fazer, amiga. E acho que você me compreenderia muito bem, se estivesse aqui comigo. Eu não consigo entender as pessoas. E talvez com certeza eu esteja no meio dessas pessoas, porque algumas vezes eu também não consigo me entender.
O sentido pra mim sempre foi muito simples, e a saída é fácil. Estou falando sobre práticas cotidianas, estou falando sobre “se quer faz, se não quer não faz”, sabe? As escolhas sempre estarão presentes e a gente vai precisar escolher. Essa coisa de ficar andando na indecisão, argumentando que não sabe de nada, não tem certeza, pode ser mas pode não ser, isso não funciona. Pare, pense e decida. Se foi a decisão certa ou não, isso vem depois. E se você vai se arrepender ou não, também.
Ontem estive em uma festa muito boa, acho que você ia adorar. Mas o muito boa me custou uma sexta-feira perdida, porque senti raiva, e você sabe como eu não gosto de sentir raiva. Não gosto de acontecimentos ruins, e ao que parece a festa gerou acontecimentos ruins para uma pessoa que eu gosto – e mais ainda, ao que parece, a culpa foi minha.
Pois é, Carlota. Mas olha, eu não pedi pra culpa ser minha, entende? E eu tenho certeza absoluta que ela na verdade NÃO É minha. E é aqui que eu te pergunto e seria inútil ter esperanças em esperar resposta, Por que as pessoas complicam TANTO, Carlota? Por que as coisas que eram pra ser mais simples e objetivas viram uma tigela de complicações e dores de cabeça?
E olha, eu não consigo responder a pergunta, obviamente, porque se conseguisse jamais passaria por esse tipo de situação de novo, mas eu arrisco a dizer que tem tudo a ver com a sinceridade das pessoas. As pessoas são cada vez menos sinceras e não da pra entender porque. Algumas vezes eu concordo, é tão difícil falar a verdade, falar o que você está sentindo de verdade. Mas no fim, Carlota, é infinitamente melhor.
Hoje estou me sentindo bem idiota. Não sei em quem confio, não sei o que pensar e, na verdade, por mais tempestuosa de palavras que minha cabeça está eu não sei o que falar. Não sei o que falar, Carlota. Não sei por onde começar a explicar o quão irritada, desapontada, chateada e brava toda essa situação me deixou. Não sei como começar a explicar porque fiquei irritada, desapontada, chateada e brava. Não sei como demonstrar como eu estou me sentindo idiota – totalmente idiota – porque pra mim já está estampado na minha cara, bem grande: IDIOTA.
E porque eu estou me sentindo idiota? Porque eu acho que as coisas NÃO PRECISAM ser complicadas. Porque, no fim das contas, a gente corre o risco de prejudicar várias relações e pessoas por conta de “nóias” sem sentido nenhum. Porque eu me sinto prejudicada por isso. E porque eu tenho essa mania idiota de escolher sempre o lado errado pra caminhar, achando que posso estar fazendo o certo.
Carlota, é muito pedir menos complicações? Porque, sinceramente, não consigo imaginar relações sadias sem verdades.
Amiga, sinto sua falta. Você deveria estar aqui, porque seria muito mais fácil conversar mos pessoalmente sobre isso, tenho certeza que sua opinião seria muito melhor se dada ao vivo.
Em tempo, embora tenha optado pela sinceridade nessa história, acabei de descobrir hoje que foi uma decisão ruim. E dessa vez a culpa nem é minha...
Um abraço afetuoso, mande lembranças para o Paco, imagino que ele esteja enorme e peludo de novo!
Julia.