A recorrente desilução

Muitas vezes paro pra pensar e considero que estou fazendo muito menos "pro mundo" do que eu poderia/deveria fazer. Me considero, aliás, uma pessoa de extrema consciência, embora até pessoas de extrema consciência por vezes caiam em reproduções de "coisas ruins". Mas não é disso que vim falar.
Sofri uma tremenda desilusão com uma coisa chamada MOVIMENTO ESTUDANTIL. Não conheço esse movimento em outros lugares, mas aqui em Campinas ele me parece, no mínimo, patético. Num nicho de universidades que abrigam a elitizinha e a classe média da região, salvo exceções, claro, era óbvio que isso pudesse acontecer, afinal de contas além de conhecermos bem o funcionamento de uma universidade "de excelência" - ou, a meu ver, uma universidade escrota (em alusão à uma magnífica tirinha feita pelo grupo "miséria") as pessoas se tornam escrotas também.
Mas é claro que a gente pensa que uma vez que se estude, se leia e se tenha o MÍNIMO de entendimento do mínimo (apesar de essa percepção ser uma coisa "subjetiva", embora eu defenda minha opinião de que ela é certa) e sabemos que tem muita coisa ERRADA acontecendo por aqui. E ai que não podemos esperar obviamente da estrutura da universidade e da educação em si, o estímulo ao debate e ao conhecimento reflexivo. Mas ai a gente pensa que existe um DCE e que ele vá representar os estudantes, vai preencher essa lacuna de reflexão, vai lutar ... E ai que nem o DCE funciona. Ou bem, funciona, afinal de contas, qual é o interesse dos estudantes no fim das contas?

Participei da construção de um coletivo que se pretendia lutar contra a violência contra a mulher - grupo que se organizou em decorrência da "onda" de estupros que tomou conta do bairro (embora todos nós saibamos que os estupros existem faz tempo, dentro e fora das universidades da região E QUE não é só estupro o problema). O grupo vivia cercado de polêmica, às vezes cansativas, mas pelo menos reunia pessoas diferentes, com opiniões diferentes e capacidade de argumentação ótima, o que no fim das contas me faz perceber, hoje, que apesar de desgastar as pessoas um pouco, pelo menos enriquecia o debate. Dois meses e meio depois de acontecer uma passeata contra a violência - que reuniu umas 600 pessoas no máximo (apesar da confirmação de quase 5.000 via facebook) o movimento minguou. E por mais que exista ainda o conhecimento de que HÁ VIOLÊNCIA LATENTE, TODOS OS DIAS, as pessoas desistiram de construir um movimento.
Em uma reunião para discutir a questão da polícia, conseguimos atingir uma quantia ápice de pessoas, em torno de 40/50 delas, em questões acaloradas. Muito foi levantando sobre a própria força do movimento, oonde inclusive houve um reconhecimento de que era preciso aumentar e expandir o comitê, de que ele precisava ganhar força e que era importante não abandonar a causa. Bom, muito bonito no discurso, muito mentira na prática.
O comitê foi abandonado - não sem antes ter sido tratorado por um mesmo DCE que não se deu ao trabalho de estabelecer uma comunicação sincera e verdadeira durante as reuniões, chamando uma reunião com a reitoria e um ato de maneira às pressas e não sem antes ter sido abandonado por grupos políticos que, ao discordarem da votação final do comitê, simplesmente optaram por tentar desconstruí-lo por fora, tentando chamar outros espaços de decisão, inclusive propondo assembléia de estudantes, de forma também a "tratorar" o comitê no qual eles também votaram e que, por uma disputa de opiniões divergentes, perderam. O grupo morreu, foi morrendo aos poucos, abandonado depois por esses dois grupos que, apesar dos apesares, ajudavam a enriquecer minimamente o debate interno.

Era disso que se tratava. O comitê possui o perfeito esclarecimento do era/é necessário: Aumentar o movimento, trazer mais pessoas, reivindicar, se movimentar, pressionar, deixar a discussão se tornar algo permanente, preencher as lacunas de pensamento vazias dessa universidade de "EXCELÊNCIA" que, convenhamos, que excelência é essa?
Há um grupo na internet criado para discutir os problemas do bairro, ele conta com quase 2200 pessoas. Há um evento criado para o comitê, com datas e horários dos encontros, com quase 300 pessoas confirmadas na discussão. Há a sensação eterna entre nós, estudantes (e indivíduos num geral) de que a internet é suficiente. O pensamento que parece prevalecer é aquele que criou o evento "PROTESTE JÁ CQC" que tantos de nós, alunos de movimento, combatemos tanto, mas que se instalou também no nosso meio - e que coloca pra gente que o suficiente é causar na internet, apoiar eventos, confirmar presença e no máximo assinar um abaixo-assinado. E PERMANECER COM A BUNDA NA CADEIRA.
Acho que não dava pra ser diferente. É esse grupo de estudantes (a maioria massiva) que nosso DCE representa. É esse tipo de movimento ao qual ele se limita. A sensação de apatia é grande demais. O silêncio com que nós, estudantes, temos respondido às atrocidades que vemos acontecer tanto dentro, quanto fora da universidade, é assustador. O que vamos esperar de resposta dos senhor reitores? prefeitos? donos de empresas terceirizadas? Brincadeirinhas a parte, mas acredito que a situação pra eles deve ser risível. Ou, pegam nossos panfletos (MIL E UM PANFLETOS ESCRITOS, milhões de palavras, zero de ação) e riem da nossa cara. Assistem um ato onde estão presente 20 pessoas (de forma alguma desmereço as 20 pessoas que compuseram o ato) e pensam: 20 pessoas representam o interesse de, sei lá, 50 mil alunos? (juntando asa três universidades). Ridículo. Nosso movimento é ridículo.
É doloroso ver vídeos como o de Eduardo Galeano falando do mundo que está "grávido" e que, portanto, citando Vladimir Mayakovsky "As vestes poeirentas de nossos dias, cabe a ti, juventude, sacudí-las.".
É deprimente, é angustiante, ver uma juventude (e digo atualmente juventuda porque, apesar de acreditar numa apatia geral no país, temos presenciado greves bem grandes de trabalhadores em todos os estados) que tem tanto potencial, que tem e conta com a força extra de ser juventude, que deveria se colocar na luta, que deveria agir, que não pode se calar - É angustiante vê-la assim, inserida no ápice individualista da sociedade e da universidade. Qual é o momento, se não este, de se lutar pela educação? Pela transformação? Contra o machismo? Qual é o momento onde o próprio sistema se colocou a função de escancarar tantas contradições e tantos absurdos, que não esse, em lutar contra ele, em se pretender construir uma socidade digna de se viver? E, no entanto, estamos ai, aqui, sentados e apáticos, querendo terminar nossos cursos e beber nossas cervejas em festas - continuando a reproduzir todos os absurdos da sociedade.

É lamentável. E eu me sinto assim também, onde minha única forma de protesto e de não silenciar é escrever em um blog que ninguém vai ler, e querer argumentar na internet sobre isso.

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