Hoje, voltando pra casa de ônibus, reparei em um senhor, e que a minha modéstia não faz chamá-lo de um velhinho, mas bem velhinho mesmo, que, aliás, já pegou ônibus uma vez comigo.
E ele estava lá, na calçada andando. O que me fez reparar nele, talvez o fato de que estivesse chuviscando e ele estivesse caminhando sozinho, mas não. É incrível como o tempo, o tão maldito tempo, se apóia nas costas dessas pessoas, que são teimosas e persistem. Era como se o Senhor Tempo estivesse apoiando suas duas mãos e os cotovelos – o braço todo – nas costas desse velhinho, pobre velhinho. Que a idade faz com que sua simpatia não seja reconhecida quando ele entra no ônibus e cumprimenta todo mundo, porque é feio, tão feio porque ele está ali, quase caindo pra frente, e parece que dói, mas será que dói?
O que esse homem já passou, será esse o reflexo do ser humano no fim? O peso de toda uma vida, de todo um tempo percorrido, de uma sequência de ações que ele praticou e um montão de outras coisas que fizeram com ele: Tudo pressionando teus ombros, o mundo.
Será que talvez seja porque no decorrer de sua vida ele fez coisas pesadas? Não estou falando de uma curvatura pouca, é grande, é muito, é difícil. Difícil ver, mais difícil ainda deve ser carregá-lo.
Sua simpatia e sua curvatura poderiam ser paradoxas, o tempo o obrigou a ser assim pra aliviar a dor ou ele é assim, independente desse peso? Deve ter ele o peso do mundo, as dores dos amores, os dissabores a consciência e o reflexo de tudo que foi e até do que não foi. O Tempo ta ali, ta ali lembrando ele, lembrando todos que o vêem, fazendo questão de mostrar que uma hora ele chega, assim, se apóia na gente, sem licença nem simpatia, nada de calmaria ou aconchego. É o mundo, um ombro e o sentimento do mundo.

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